Travessia #11: sonhar
Janeiro a Fevereiro.
Começamos o ano relembrando o clássico filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, você se lembra dele? O longa que conta a história de Amélie , uma jovem francesa que sai todos os dias pelas ruas de Paris, dando um novo sentido para a existência daqueles que cruzam seu caminho. Ela é expert em observar os pequenos detalhes e se encantar com eles. Faz de tudo para arrumar a desordem da vida dos outros, uma grande sonhadora, mas nem todos os dias são fáceis para a curiosa Amélie. Em uma das cenas mais icônicas ouvimos a seguinte frase do narrador:
“São tempos difíceis para os sonhadores.”
Essa cena estampa diversas canecas, grafites, roupas e redes sociais. Embora a cena se passe no ano de 1997, essa frase pode fazer bastante sentido nesse início de 2024 também.
Talvez, todos tenhamos um pouco de Amélie, e temos um narrador caçoando de nós, afinal parece que falar sobre sonhos é algo démodé, místico, ultrapassado. Por isso, escolhemos Amélie como "fio condutor" para introduzir a travessia que atravessaremos nos próximos meses: SONHAR, nos mais amplos sentidos dessa palavra.
Mas já avisamos de antemão: não queremos simplificar a complexidade e abrangência do tema. Nas próximas semanas, nossos colunistas trarão diferentes recortes e caminhos sobre essa travessia. Também queremos saber suas impressões e conhecimentos sobre o assunto. Então não deixe de comentar ou responder esse e-mail. E, claro, se ainda não recebe as news da Travessias Revista Digital, aproveite para se inscrever agora.
Para começo de conversa, trazemos uma pergunta:
Você tem conseguido sonhar?
Sim, essa é uma pergunta ampla. E é para ser mesmo. Quando falamos em sonhos, estamos falando de uma experiência onírica, dos sonhos dormidos, mas também podemos pensar naqueles sonhos de futuros possíveis, imaginar algo que queremos alcançar.
E uma coisa pode estar relacionada a outra. O neurocientista Sidarta Ribeiro, escritor de livros como Oráculo da Noite, explica que muitas vezes o sonho é uma simulação de uma situação. O sonho ativa memórias do passado e cria conjecturas sobre o futuro. Sim, precisamos dormir para criar.
E ao que muitos estudos, pesquisas e conversas sem pretensões indicam, a sociedade está passando por uma crise dos sonhos. Mas sobre isso, a gente fala daqui a pouco.
Tecnologia ancestral, saberes indígenas, descobertas científicas, músicas…
Sonhar é coisa séria. E a ciência pode provar.
Pode parecer papo de “bicho-grilo”, mas o universo dos sonhos acompanha a história do ser humano. Sim, sonhar é uma instrumento ancestral e vem sendo estudado por neurocientistas, psicanalistas e xamãs. Em entrevistas, Sidarta cita exemplos que passam por como os povos originários lidam com os sonhos até hoje e como a narrativização desses sonhos já salvou diversas comunidades.
E também traz exemplos de sonhos que deram origem a muitas coisas, como a tabela periódica, que apareceu em sonho para o químico Dmitri Mendeleev, e a melodia da música Yesterday, que surgiu nos sonhos de Paul McCartney, que (ainda bem!) acordou e foi direto para o piano…
A crise do sonhar
“Os brancos dormem muito, mas só conseguem sonhar com eles mesmos” -Davi Kopenawa
Parece que o modelo do capitalismo-tecno-neoliberal tem se apropriado dos sonhos também. Estamos dormindo cada vez menos, ou pelo menos, cada vez pior. Muitos hábitos modernos, como o uso intensivo de telas, pegar o celular logo ao acordar, escassez de tempo de contemplação estão nos distanciando dessa tecnologia interna que possuímos.
Esse modelo de vida ocidental moderno, também está nos roubando o tempo para fantasiar e acabou transformando a palavra sonho em uma palavra composta “sonho de consumo”. Diante de diversas crises provocadas pelo antropocentrismo, como a crise climática e social, ficamos com um sentimento generalizado de desilusão e incerteza e tendemos a parar de acreditar em um futuro que pode ser diferente e melhor.
Muitas pessoas que sempre conseguiram fazer planos para o ano que começa, com o passar dos anos, e principalmente depois da pandemia de Covid-19, se vêem paralisadas… Então, se lá no começo do texto você respondeu que não tem sonhado muito (no sentido amplo do verbo), você não está sozinha.
É tempo de sonhar
Talvez, estejamos vivendo o tempo em que mais deveríamos sonhar (e agir por eles). Se a gente perder, de vez, a capacidade de imaginar novos caminhos e de compartilhar esses vislumbres com os outros, vamos perder parte fundamental da nossa humanidade.
Em diversas culturas indígenas, como a tradicional cultura aborígene australiana, o ato de sonhar é encarado como uma experiência coletiva e objetiva. Como sugere o John Croft, criador do método de planejamento de projetos, Dragon Dreaming, os sonhos ganham mais força quando um sonho individual se torna um sonho coletivo. O caminho é mais gostoso quando temos com quem contar e para quem contar e compartilhar os sonhos.
Nosso desejo é que em 2024 possamos criar habilidades importantes para tornar os tempos menos difíceis para os sonhadores e que possamos agir impulsionados pelos desejos subjetivos mais profundos de nós. Que não tenhamos medo de sonhar e que ser uma “pessoa sonhadora” não seja algo pejorativo.
Como começamos o e-mail citando Amélie, terminamos com um conselho do vizinho dela, o Sr. Dufayel:
Mas antes de ir, leve no bolso esse afago de Joanna Macy:
“Caso você tema que, com esta dor, seu coração possa partir-se, lembre-se que o coração que se abre pode segurar todo o universo. Seu coração é grande assim. Confie. Continue Respirando”
Agora, sim… Vá!!! Vá sonhar e realizar. ;)
💠Caminhos percorridos nessa travessia:
Leia o que os nossos colunistas falaram sobre o tema. É só clicar nas imagens abaixo:
Vale o clique
💠Neurociência
Neste trecho da entrevista de Sidarta Ribeiro ao Jornal Nexo, ele explica o que acontece biologicamente enquanto sonhamos e dá algumas dicas sobre como lembrar dos sonhos dormidos:
💠Esperançar em tempos caóticos
Motivada pelas crescentes notícias da precariedade da saúde mental coletiva, dos suicídios que podem ser evitados e da solidão nesta época do ano,
realizou o estudo do livro ESPERANÇA ATIVA, como encarar o caos em que vivemos sem enlouquecer, escrito por Joanna Macy e Chris Johnstone no instagram da Bambual Editora. Se você conhece alguém que irá gostar desse conteúdo, envie para esta pessoa.Este foi o PRIMEIRO de 5 vídeos... Ao final de cada vídeo haverá o convite para uma prática ou vivência:
Quer apoiar nosso trabalho e fazer parte de uma comunidade de trocas mais profundas para falarmos sobre nossas contradições, dores, sonhos e alegrias?
Faça parte da Comunidade Travessias. Uma comunidade de autoaperfeiçoamento para irmos além do próprio umbigo. Nela, além de receber os conteúdos abertos como esse e-mail, você também terá acesso a conteúdos, experiências e descontos exclusivos. Veja alguns bônus:
1 texto exclusivo por bimestre, escrito por uma pessoa convidada especial. Será o nosso Para Ler na Rede;
2 Mergulhos por bimestre - sugestões de práticas para aprofundamento dos temas da Travessia e fóruns de diálogos sobre o que cada pessoa vivenciou;
1 Encontro online com os membros da comunidade, a cada bimestre, para aprofundarmos nossas conexões e celebrarmos (na plataforma Zoom);
Acesso gratuito por 2 meses a 1 curso/vivência gravado por um dos colunistas;
Desconto de 35% em todo catálogo da Bambual Editora;
Desconto exclusivo em produtos e serviços com uma nova parceria comercial a cada bimestre.
Mude sua assinatura para a versão paga e faça parte da comunidade automaticamente:
Assinatura mensal: R$29,90
Assinatura anual: R$ 287,00
Que lindo! Amo este filme! Que não percamos nunca nossa capacidade de sonhar !
sempre muito bom .. divulgo nas redes...