Para tempos ansiogênicos: ficções que curam
A influência da cultura coreana | #TeIndicoUmLivro : A Grande Loja dos Sonhos
O livro que escolhi para a décima terceira travessia está inserido dentro de um movimento que se inicia no Japão, mas que ganha força na Coreia, chamado ficção de cura. Curiosamente, me chamou atenção esse termo, especialmente por conta do tema deste mês, que apresenta perspectivas distintas sobre desacelerar.
Mas bem, o que seria esse movimento? Por que ele está associado, ao meu ver, ao tema desta travessia? E por que você deveria conhecer essas obras?
Você deve ter reparado o quanto a cultura coreana tem penetrado no Brasil e influenciado uma galerinha, especialmente os nascidos por volta dos anos 2000.
É evidente o quanto o imperialismo da cultura norte-americana vem perdendo influência. Até mesmo para nós, Millennials, que crescemos fortemente mediados por essa presença, temos nos deparado com essa fluidez. Vide que um dos filósofos mais influentes da contemporaneidade é o Byung-Chul Han. E quem nunca ouviu falar de Parasita (2020) e Round 6 (2021)? Produções audiovisuais que deram o que falar nos últimos anos.
Parasita foi o primeiro filme não falado em língua inglesa a vencer um Oscar de melhor filme, além de mais três estatuetas. Já Round 6, fez a Netflix aumentar em 900 milhões de dólares seu valor de mercado e é até hoje, no ano de 2024, considerada a produção mais vista da história da Netflix com 1,65 bilhão de horas consumidas nos primeiros 28 dias. O pano de fundo principal dessas obras audiovisuais é uma crítica às profundas desigualdades sociais e a sociedade do espetáculo.
Ficções que curam
Bom, já a ficção de cura, também conhecida como cura-ficção ou ficção terapêutica, é um movimento cultural asiático que surgiu no final da década de 1990 e se caracteriza pela produção de obras literárias, audiovisuais e musicais que exploram temas relacionados à cura emocional e ao bem-estar mental.
Grande parte dos cenários desses livros acontecem em locais descontraídos que transmitem sensação de relaxamento, sendo muito comum encontrar títulos que se passam em bibliotecas, livrarias e cafés. Com narrativas de caráter simples, retratam a trajetória de pessoas que encontram-se em uma jornada de transformação pessoal, resiliência aos impasses da vida e reencontro com o amor-próprio.
Um fato curioso é o sucesso dessas obras no Brasil. Na Coreia e no Japão isso pode ser justificado pela rigidez das dinâmicas sociais, culturais e profissionais do países. No Brasil, por outro lado, um indicador possível para esse boom talvez seja o fato de que, segundo a OMS, o país tem a população mais ansiosa do mundo, com 18,6 milhões de brasileiros que sofrem de transtorno de ansiedade.
Em maior ou menor grau, independentemente do contexto, eu diria que os livros de ficção de cura buscam acalentar as pessoas nesses tempos aflitivos e ansiogênicos.
A Grande Loja de Sonhos, que marca a estreia de Miye Lee no mundo da literatura, foi financiado por um projeto de crowdfunding na Coreia e publicado em 2020. Tornou-se um sucesso desde então conquistando uma legião de fãs apaixonados pela história e chega em 2024 nas livrarias do Brasil, assim como muitos outros títulos que fazem parte desse movimento.
A autora nos convida a embarcar em uma jornada mágica pelas profundezas do subconsciente humano. A obra explora temas como desejos, traumas, memórias e a busca pelo autoconhecimento. A história se desenrola em uma cidade misteriosa onde a Grande Loja de Sonhos, é um lugar extraordinário que vende sonhos sob medida.
Penny, a personagem principal e narradora da história, apresenta a Grande Loja de Sonhos como um lugar onde cabem todas as pessoas, desde espaços de trabalhos que dialoga com a existência de funcionários com diversos traços de personalidade até clientes que encontram na loja não apenas sonhos, como também um espaço para cochilos e biscoitos mágicos de regulação emocional.
Ao longo da narrativa, Penny e DallerGut proprietário da loja e os criadores de sonhos, nos convidam a refletir sobre a natureza dos sonhos e seu papel em nossas vidas.
Com linguagem convidativa, o livro não apresenta complexidades, nem grandes pontos de virada. Pode ser muito atraente para pessoas em fases de transição, especialmente pré-adolescentes e jovens.
Em tempos onde a tecnologia tem perdido o seu sentido primordial enquanto aquilo que usamos todos os dias para melhorar nossa comunidade e passa a ser quase como sinônimo de velocidade. Ler se torna um movimento de resistência em favor da desaceleração, é uma ode ao tempo que corre perpassando os segundos e minutos. Cada palavra lida, responde ao instante ao tempo presente.
Até que inventem um acelerador de leitura, se é que já não existe, utilizamos a literatura enquanto fuga da aceleração.
Outras indicações de ficções que curam:
📚 Kafka à beira mar, romance por Haruki Murakami.
Um livro belíssimo e viciante que te permite viajar para outro universo e mistura com maestria o real e o mágico.
📚Gostaria de uma xícara de café?
Série coreana, que dialoga com a linguagem da ficção de cura.
“Em um momento de inspiração, um jovem repensa sua vida e decide se tornar barista. Nessa jornada, ele faz descobertas inspiradoras sobre si mesmo e sobre o mundo, lições que vão muito além da cozinha”.
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