Uma Revolução Gentil para uma Civilização Planetária
Decolonização do Pensamento e a Pedagogia da Cooperação | travessia #18
"E se a cura para os maiores desafios da humanidade não estivesse na competição desenfreada, mas no modo como os povos originários sempre viveram - em uma teia de cooperação, onde cada gesto nutri e regenera toda a comunidade da vida?"
Você já ouviu falar sobre a Pedagogia da Cooperação?
No contexto de mundo atual, marcado por heranças coloniais que perpetuam hierarquias de poder, desigualdades e a dominação de certos conhecimentos sobre outros, a Pedagogia da Cooperação se apresenta como uma ferramenta fundamental para a decolonização e a construção de uma cultura regenerativa.
Ela surge como uma abordagem educativa que valoriza a beleza da individualidade, a potência da coletividade, o diálogo horizontal, a confiança mútua e a construção de saberes compartilhados.
Esta coluna apresenta como a Pedagogia da Cooperação contribui para desconstruir paradigmas coloniais e fomentar práticas educativas que regeneram relações sociais, ambientais e epistemológicas.
Mas a Pedagogia da Cooperação não é só uma proposta educativa — é uma filosofia de mundo. Um jeito de reencantar os vínculos, desafiar os impérios do individualismo, e restaurar o comum como horizonte político e afetivo. Ela emerge como resposta viva a um sistema fundado na separação, nas hierarquias e na monocultura do saber. Onde nos disseram que competir era natural, ela sussurra: aprender junto é resistir. Cuidar é subversão. Cocriar é revolucionar.
Decolonização do Conhecimento e a Pedagogia da Cooperação
Como você já viu nas colunas da travessia #18, o processo de colonização não se limitou à dominação territorial e econômica, mas também impôs uma hierarquia de saberes, marginalizando conhecimentos indígenas, africanos e de outras culturas subjugadas.
A decolonização do conhecimento exige a valorização de epistemologias diversas e a superação de modelos educacionais autoritários e eurocêntricos.
Nesse sentido, a Pedagogia da Cooperação propõe:
Aprendizagem colaborativa: Rompe com a lógica individualista e competitiva da educação tradicional, incentivando a cocriação de saberes.
Horizontalidade nas relações: Pessoas aprendem juntas, desafiando a hierarquia rígida do modelo bancário de educação (criticado por Paulo Freire).
Valorização de saberes locais: Integra conhecimentos tradicionais e comunitários no processo educativo, reconhecendo sua relevância.
O Chamado Colaborativo das Redes Vivas
"Acreditamos que cada comum-unidade tem toda água para sua sede, todo alimento para sua fome, toda sabedoria para suas inquietações e todos os recursos para realizar seus sonhos, pois querendo juntos, podemos tudo!"
Enquanto o capitalismo nos sussurra que "sozinhos chegamos mais longe", a Pedagogia da Cooperação revela que a solidão e a competição são uma armadilha colonial e propõe o resgate da sabedoria essencial.
Na aldeia Yawanawá na Amazônia, quando uma criança aprende a tecer, toda comunidade celebra - pois aquela habilidade nunca será só dela, mas um novo fio no tear coletivo.
Essa é a essência das 7 Práticas da Pedagogia da Cooperação: Conectar, Cuidar, Compartilhar, Confiar, Cocriar, Cultivar e Celebrar. Juntas, elas formam um sistema de saberes colaborativos que:
Ampliam a visão de mundo sob uma perspectiva sistêmica e transdisciplinar.
Restauram a dimensão do humano nas relações sociais e profissionais.
Transformam competição em cooperação, mostrando que são fenômenos culturais (e não naturais).
Inspiram o "melhor em cada pessoa", não o "ser melhor que todo mundo".
As 7 Sementes da Transformação
Você pode estar se perguntando "mas isso é viável?” ou “será que dá para colocar em prática nesse mundo em que vivemos?” Por isso, trago alguns exemplos de um outro mundo que já pulsa nas rachaduras desse sistema:
① Conectar
Decolonização Regenerativa: Rompe o mito do "especialista único", criando redes de solidariedade, valorizando saberes ancestrais e fortalecendo vínculos entre pessoas e ecossistemas, baseados em reciprocidade.
Onde acontece: Nas rodas de conversa do MST, onde o saber acadêmico e o popular se entrelaçam como raízes.
② Cuidar
Decolonização Regenerativa: Substitui a lógica da exploração individual pelo bem-estar coletivo, resgata práticas comunitárias de cuidado e recupera o ritmo orgânico da convivência e do trabalho, antídoto para a produtividade tóxica.
Onde acontece: Nas empresas B como a Dádiva (SP), lançou a 3/4, que vinha em um pacote com duas latas: uma, de 473 ml, e outra, menor, de 350, simbolizando a diferença salarial entre homens e mulheres que exercem as mesmas funções. Antes, em 2021, lançou Nosso Silêncio Deixa Marca, sobre a violência doméstica sofrida pelas mulheres.
③ Compartilhar
Decolonização Regenerativa: Subverte a lógica da acumulação, provando que recursos compartilhados geram mais abundância, incentivando economias colaborativas e trocas horizontais de saber para fortalecer bancos comunitários de recursos, conhecimentos e tecnologias sociais abertas.
Onde acontece: Na Rede Solidária de Catadores (MG), onde equipamentos e lucros são distribuídos democraticamente.
④ Confiar
Decolonização Regenerativa: Substitui hierarquias rígidas por autonomia responsável, inspirada em pactos coletivos tradicionais, cria organizações flexíveis e resilientes, capazes de responder a crises de forma colaborativa e recupera o crédito como relação humana baseada na confiança, não como instrumento de controle.
Onde acontece: No Banco Palmas (CE), onde empréstimos são concedidos sem garantias, baseados na reputação comunitária e na confiança mútua.
⑤ Cocriar
Decolonização Regenerativa: Adota processos participativos (como assembleias indígenas), combatendo a monocultura do pensamento, gera soluções locais e modelos de negócios de impacto e desmonta o monopólio legislativo do poder “contra”, herdado do colonialismo para promover o poder “com” inspirado pela inteligência colaborativa.
Onde acontece: No Laboratório Hacker da Câmara dos Deputados, onde cidadãos e servidores públicos desenvolvem leis juntos.
⑥ Cultivar
Decolonização Regenerativa: Recupera saberes tradicionais (agroecologia, pedagogias da terra) contra a lógica extrativista, incentiva agricultura regenerativa, promove organizações que aprendem em harmonia com a vida e reconecta a educação aos ciclos da terra, antídoto para o conhecimento desenraizado.
Onde acontece: No Centro de Formação dos Povos da Floresta que é considerado uma das principais referências na formação de Agentes Agroflorestais Indígenas e que oferece cursos e oficinas em informática, geoprocessamento, ilustração científica, políticas linguísticas, elaboração de projetos, educação digital e práticas culturais.
⑦ Celebrar
Decolonização Regenerativa: Reafirma identidades através de rituais, resistindo à homogeneização cultural, revitaliza o sentido de pertencimento, essencial para engajamento em causas socioambientais. Quando um povo que foi ensinado a ter vergonha de suas raízes passa a celebrá-las, a cura é coletiva.
Onde acontece: No Festival Ubuntu (SP), projetos das periferias de São Paulo, são compartilhados promovendo “o encontro da África com o Brasil", em um clima de celebração e regeneração de nossa HumaUnidade.
Impactos Sistêmicos e a Maior Subversão
A aplicação dessas práticas colaborativas gera mudanças profundas:
Nas empresas: Transição de modelos piramidais para redes colaborativas, com foco em bem-estar e sustentabilidade.
Na educação: Substituição da pedagogia bancária por processos dialógicos e valorização de saberes locais.
Nas comunidades: Fortalecimento de economias regenerativas e governança participativa.
Cooperar em um mundo que lucra com nossa desconexão é um ato político. Quando uma escola pública no Ceará troca notas por avaliação coletiva, ou quando uma startup de TI adota decisões por consenso, eles estão:
Desobedecendo à lógica da meritocracia colonial
Regenerando o tecido social ferido
Provando que outro mundo não só é possível - já está nascendo nas brechas do entre-nós
O Convite: Sua Jogada no Grande Jogo da Vida
Quer sentir a Pedagogia da Cooperação na prática?
Este não é um artigo para apenas ler - é um mapa para ação. Que tal realizar o Desafio Colaborativo que preparamos para Travessias?
Nesta semana, reúna 3 pessoas para compartilhar:
Uma pergunta que arde em vocês.
Um sonho que ainda não contaram.
Um “Mínimo Passo Elegante” para fortalecer e/ou regenerar a amizade, parceria, aliança entre vocês.
Depois, se puder/quiser, compartilhe com a gente e passe o desafio adiante!
A Jornada Continua: Formação em Pedagogia da Cooperação
"No jogo futuro de nossas relações cotidianas ou todo mundo ganha, ou todo mundo perde."
A Pedagogia da Cooperação não é apenas uma metodologia, mas um convite à reinvenção das relações humanas. Ao integrar suas 7 Práticas, pessoas, grupos, organizações e comunidades podem: Descolonizar estruturas rompendo com hierarquias e valorizando diversidade humana e epistemológica; Regenerar culturas cocriando sistemas alinhados à justiça socioambiental e à visão de um mundo onde todas as pessoas (e formas de vida) possam VenSer em harmonia.
Se esta coluna ecoou em você como um chamado, saiba que é possível mergulhar nessas práticas participando da próxima turma da Pós-Graduação em Pedagogia da Cooperação e Metodologias Colaborativas.
Uma realização do Projeto Cooperação em parceria com a Faculdade AUDEN, para quem quer facilitar processos colaborativos em escolas, empresas, governos e comunidades, fazendo parte de uma rede de Agentes de Cooperação para causar transformações em todos os lugares.
✧ Conheça o programa completo e inscreva-se aqui.
"A cooperação não é um método, mas um caminho de reconexão com a essência de nossa própria HumaUnidade”
Dica de leitura
Livro: Pedagogia da Cooperação: Por um mundo onde todas as pessoas possam VenSer. Um livro que reúne textos de 27 especialistas e apresenta a abordagem completa da Pedagogia da Cooperação, desenvolvida há 17 anos no Projeto Cooperação, recheada de experiências e seu enlace com diversas metodologias colaborativas.

💠Em abril: 1ª Trilha de Leitura Compartilhada
Ainda dá tempo de participar do último encontro ao vivo (amanhã!) e assistir a gravação dos encontros passados. É só fazer parte da Comunidade Travessias.
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