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Um livro escrito por (e para) corpos que festejam
#Te Indico Um Livro: Meu Corpo É Uma Festa.
Quando a Isabel Valle, fundadora e publisher da Bambual Editora, me contou que um livro escrito por 16 mulheres estava a caminho, eu logo pensei: "Vem um livro sobre potência por aí…"
Eis que alguns dias depois ela me conta o nome do livro: Meu Corpo É Uma Festa - Um convite às mulheres para reflexões, vivências e celebração de seu corpo.
Foi nesse momento que percebi: "meu feeling é mesmo bom!" 🙃 Afinal, um livro escrito coletivamente, por mulheres tão diversas -e com esse título- não tinha como não ser potente.
A travessia deste mês nos instiga a pensar sobre a nossa relação com os nossos próprios corpos e com os corpos à nossa volta. No texto que abre o caminho para essa trilha falamos sobre como ter um corpo que sente prazer, é ouvido e é livre pode ser um início de uma revolução muito mais profunda do que podemos imaginar. Se você ainda não leu, pode ler aqui: Meu corpo, minha anarquia.
Com esse tema, o livro sugerido não poderia ser outro. A obra foi pensada para celebrar os corpos e para que os leitores possam se apropriar deles com a palavra, com o sentir, com reflexões e com práticas.
Nas páginas de Meu Corpo É Uma Festa, você vai encontrar poesia, conhecimentos de psicologia, medicina chinesa, constelação sistêmica, dança, culinária, entre outros, assim como exercícios práticos para que você possa ter a vivência concreta com o tema de cada capítulo. Você pode fazer os exercícios sozinha, levá-los a seus Círculos de Mulheres ou compartilhá-los com amigos e pacientes.
No post abaixo tem um gostinho de um dos exercícios propostos. (Spoiler: é poderosíssimoooo!)
É “um convite à subversão, recriação e liberdade”. Se eu precisasse resumir do que se trata este livro usaria essa frase, que é também título do primeiro capítulo. Mas, quem já conhece o #Te Indico Um Livro, sabe que por aqui a gente gosta de apresentar os livros pelos olhos de quem os escreveu.
Conversei com três autoras da obra e, de quebra, também bati um papo com a publisher que aceitou trazer esse livro ao mundo pela Bambual Editora. Sim, a Isabel Valle vai nos contar sobre as primeiras impressões que teve com a obra, o caminho percorrido e outras curiosidades…
Espero que goste e inspire sua futura leitura!
Jogo rápido com três autoras e grifados no livro:
Possíveis perguntas que você também faria para as escritoras depois de ler a obra. 😉
O convite é, ao ler “feminino”, esquecer-se do que se aprendeu no passado sobre ser feminina. Nós, mulheres, estamos criando novos significados para esta palavra. E elas não são prisões. São a liberdade de explorar quem somos. Explorar as qualidades referentes a ser mulher. A partir do nosso olhar e experiência. Sem temer a investigação e validação das nossas diferenças e sem precisar colocá-las em escalas ou hierarquias – como faz o patriarcado…

Pode contar um pouco sobre como surgiu o sonho de publicar um livro? E como foi a trajetória até que ele chegasse às mãos de tantas mulheres?
Soledad: Ele surgiu de uma lacuna no mercado de livros que falem e apoiem um movimento bastante expandido no mundo, o empoderamento feminino e os círculos de mulheres. Na última década tem crescido continuamente o número de mulheres que querem estar com outras mulheres, se conhecendo como mulheres e refletindo sobre esta experiência. Vivemos em um mundo patriarcal, ainda com pouco espaço para a mulher e sobretudo para tudo que se associa à mulher.
Por exemplo, a própria maternidade não é apoiada, muito pelo contrário. Ter um filho pode ter um grande custo na carreira para uma mulher do universo corporativo, onde se exige uma dedicação que não integra o tempo da maternidade. Isso para falar apenas de um aspecto mais concreto e evidente dessa falta de espaço e valor a tudo que se refere à mulher e ao feminino.
Os círculos, encontros, cursos destinados às mulheres são uma realidade, e nós que participamos desse movimento, sabemos o quanto de apoio tem dado às mulheres e quantas transformações têm gerado. Do nosso desejo de tocar mais mulheres com esta experiência nasceu este livro. Mulheres que vivem em cidades onde não há círculos, mulheres que não tem tempo ou possibilidade de participar destes encontros e cursos. Mulheres que preferem fazer isso em casa, sozinhas, ou que já participam de encontros, mas querem aprofundar e manter a experiência de mergulho, conhecimento e aceitação da sua forma única de ser mulher.
Ele nasce do coletivo, porque o TeSer Juntas, fundado por mim e Tassia, desde seu nascimento, tem buscado formar e reunir mulheres com este interesse. Em 2017 começamos a promover um Festival, onde facilitadoras ofereciam oficinas ou palestras, bem acessíveis sobre diversos temas do feminino. Conseguimos realizar 5 edições do Festival, três presenciais e dois online devido à pandemia. Sempre foram experiências vibrantes, de muita colaboração entre todas e muita apreciação por parte de quem participava. Em 2020, quando encerramos o quarto Festival, que foi uma experiência incrível, dissemos:
Esta experiência precisa se transformar em um livro!
Quem participou também nos dizia o mesmo: mais mulheres precisam viver isso. E foi assim que nos lançamos na escrita dos 16 capítulos, feito por 16 das mulheres que participaram dos Festivais.
O tema escolhido foi o corpo, porque é por ele que tudo começa, por onde tentaram nos prender e por onde estamos resgatando liberdade e alegria de viver e ser.
Com os capítulos prontos, reunidos e editados por Naiara, tivemos o encontro com a Bambual Editora, através de Isabel que nos apoiou imensamente e nos incentivou a publicar e fazer o financiamento coletivo. A nossa campanha teve uma grande repercussão e já nos primeiros dias batemos a primeira meta, confirmando quanto as mulheres estão abertas e precisando de literatura que as apoie na vivência e descoberta da sua individualidade feminina, sem demandas e pressões externas. Mas apoiada por outras mulheres e seus saberes.
Como você acha que essa obra pode ajudar as mulheres que cruzarem com essas páginas?
Soledad: Depois que lançamos o livro temos recebido vários comentários e agradecimentos que tem nos dado a dimensão do quanto este livro já está ajudando muitas mulheres. Ouvimos de terapeutas que já usaram capítulos do livro para ler com suas pacientes, para ajudá-las a olhar e atravessar um desafio. Já soubemos de grupos de mulheres que estão usando o livro como guia para seus encontros. Uma mulher recebeu o livro de presente e escreveu emocionada que nunca tinha se interessado por este tipo de leitura, mas que estava se reconhecendo tanto, ressignificando como se sentia como mulher e amando seu corpo.
Creio que estes depoimentos que recebemos dizem muito de como este livro pode ajudar as mulheres. Ele é alegre, ele é pessoal, porque conta pedaços de nossas experiências, como mulheres e como psicólogas, médicas, parteiras, terapeutas, ao mesmo tempo que traz referências culturais, históricas, da medicina tradicional chinesa, da psicologia. Cada capítulo vem acompanhado de sugestão de práticas, para o tema abordado, para que a compreensão não fique somente no nível intelectual, mas possa ser vivenciado, integrado no corpo.
Depois de ler as 16 autoras a gente pode perceber que existe uma unidade, mas que cada uma tem seu próprio jeito, identidade e o livro respeita isso. Como você pensou a estrutura do livro e como foi o processo de organização de textos tão diversos?
Naiara: O livro nasceu como um desdobramento do Festival TeSer da Primavera. Tradicionalmente, o festival acontece como uma imersão de fim de semana, em que são oferecidas às participantes dezenas de workshops anfitriados por psicólogas, parteiras, médicas, professoras de ioga, dançarinas, escritoras... Cada uma na sua linha de trabalho com o feminino. Em geral, ficamos enlouquecidas no meio de tantas opções. :)
Cada edição do festival elege um tema central e o livro nasceu da edição 2020, cujo tema foi corpo. Daí veio a ideia de dedicar cada capítulo do livro a uma parte do corpo da mulher. De cara, imaginamos, então, que seria um livro com ilustrações bem bonitas (já viram o belo trabalho feito pela Sandra Kuniwake?).
Além disso, a essência do festival é vivencial, então, entendemos que o livro tinha que trazer sugestões de práticas (são elas que fecham cada capítulo). Também tinha que ter poesia, porque a apreciação artística está muito presente nos nossos encontros. Por isso, sugeri que cada tema e parte do corpo fosse apresentada por alguns versos escolhidos ou criados pelas autoras. E, no miolo, as mulheres teriam espaço para trazer suas linhas de trabalho de forma mais conceitual e informativa.
Entendi que esses três elementos, repetidos a cada capítulo — poesia, texto conceitual e sugestão de prática —, ajudariam a trazer unidade e dar "cara de livro" para o festival de conhecimentos, experiências e belezas trazidas pelas 16 autoras que fizeram parte do projeto, cada uma com sua singularidade de abordagem e expressão.
No mais, busquei fazer uma edição que demonstrasse cuidado com o texto e contribuísse para essa unidade, mas que fosse um pouco anárquica também (bem na linha da Travessias #06 — Meu corpo, minha anarquia).
Não senti necessidade de seguir estritamente alguns padrões. A certa altura, por exemplo, achei que não fazia sentido cortar demais um texto para que ele ficasse no tamanho dos outros, porque me pareceu que ele precisava de mais espaço mesmo. Foi um processo bem artesanal com cada autora.
Além de organizadora do livro você escreveu um capítulo, sobre a LÍNGUA! Dá um spoiler sobre os motivos de você ter escolhido essa parte do corpo para aprofundar?
Naiara: Ah! Eu tenho enorme prazer em praticar a alquimia dos sabores na cozinha. É uma herança de família. Ao mesmo tempo, gosto de brincar com a sensualidade na escrita.
Mmmm até salivei ;)
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Quando surgiu o convite para fazer parte da escrita desse livro qual foi seu sentimento? De cara você já sabia qual parte do corpo iria falar? Como foi o processo de escrita?
Thais: É sempre uma alegria lembrar de como surgiu o convite para fazer parte da escrita desse livro, o sentimento que tive quando disse “SIM “ é o mesmo até hoje, quando tenho a oportunidade de falar deste projeto feito por mãos de mulheres, para mulheres e de forma muito feminina. O que quero dizer com isso é que teve muita poesia na sua construção, muito cuidado em cada detalhe, foi fluido, amoroso, colaborativo, divertido e curativo pra mim.
Logo de cara já sabia qual a parte do corpo que iria escrever. Fazer a formação do TeSer Juntas foi um divisor de águas na minha vida. Naquele momento meu corpo foi sinalizando os caminhos a percorrer para que eu me habitasse e me localizasse como um corpo de uma Mulher Negra no Mundo.
A parte escolhida foi o cabelo por ser símbolo de identidade, resistência, que transcendeu a esfera da estética. Meus cabelos cacheados foram meus aliados para me conectar com minha história, e a partir desse encontro vem sendo lanterna para me guiar meu caminhar.
“Em cada cacho meu cabelo vem me contando um poema e, assim, vou me encantando por mim. Meu cabelo cacheado é um poema meu.”
—Poema escrito por Thais, que dá início ao capítulo.
O processo da escrita foi uma deliciosa oportunidade de revisitar minha trajetória, por esta razão foi um processo de muita cura e o mais importante não me senti sozinha, estive segurando muitas mãos, amparada por uma rede muito amorosa e maravilhosa de mulheres admiráveis. Nossos corpos são aliados para abrirmos espaços para entrar em relação e escuta, abri mais espaço para incorporar de mim mesma. E agora me incorporo de mim mesma e da minha escrita também! Todas as histórias importam e precisam ser contadas!
Você, provavelmente, recebeu muitos feedbacks de leitoras. Pode contar um pouquinho sobre como o capítulo CABELOS tem chegado nas mulheres? E como essas impressões reverberam em você?
Thais: Tenho recebido muitos feedbaks de leitoras e tenho ficado muito feliz, afetada com afeto e emocionada por tantas partilhas. É gratificante saber que a minha história tem abraçado e pegado na mão de outras mulheres nos seus processos com seus cabelos. Me sinto feliz em poder ter sido lida como ferramenta de apoio para uma adolescente preta em setting terapêutico quando trazia sua dor em relação a negritude. Acho que a minha história pode ter sido uma lanterna…
Como esse livro apareceu para você? E qual foi sua primeira impressão? Quais expectativas foram criadas? Elas se cumpriram?
Isabel: A Naiara, organizadora do livro, me perguntou se a Bambual Editora tinha interesse em conhecer o projeto e... livro para mulheres? Quero! A primeira olhada no texto me trouxe o encanto de ver como as coautoras conseguiam propor reflexões a partir de perspectivas peculiares e inusitadas, inspiradas em cada parte do corpo. Estamos recebendo inúmeros feedbacks positivos sobre o livro, mas ele ainda precisa chegar a mais mulheres.
Você já está pra lá de acostumada com processos de financiamento coletivo para lançamento de livros (a Bambual Editora já fez mais de xxx). Mas essa campanha foi bem especial, né? Pode contar um pouco sobre o processo e principais aprendizados?
Isabel: O processo da campanha com o grupo das coautoras foi lindo! Antes de começar, pensei: “Nossa! Fazer uma campanha com 16 mulheres – é muito potente, pois serão muitas pessoas envolvidas, mas pode ser um caos se não for bem organizada.” Para minha feliz surpresa, as mulheres do TeSer Juntas já têm afinidade, pois já realizaram alguns festivais juntas, e tudo fluiu maravilhosamente bem e refletiu no incrível sucesso que foi. Desde fazer o filme da campanha – a maioria das mulheres fez filmes com seus celulares e contribuiu com o roteiro – até oferecerem recompensas que elas mesmas realizariam. Um ponto me chamou a atenção: quando uma delas não podia estar na reunião, era comum a frase: “Sigam em frente. Decidam. Eu confio em vocês”. Foi um processo lindo!
E aqui vai um trechinho do capítulo escrito pela Thais 💛:
««Ficou com vontade de ler todas as partes do seu corpo? Aproveite o cupom com 25% de desconto no site da Bambual Editora. É só usar #travessia6. Depois da leitura, me conta o que achou? »»
Antes de encerrar, quero celebrar e honrar as 16 coautoras que fizeram esse livro acontecer
(E você pode conhecer um pouco melhor de algumas delas nessa série especial que a Bambual Editora fez no seu Canal de Youtube.)
Viva vocês:
Soledad Domec, Tássia Feliz, Naiara Magalhães, Adriana Casonato Portugal, Cláudia Araújo, Daniela Aguas, Eulália Oliveira, Fabiana Higa, Marina Moscovici Mendes, Vanessa T. R. Amadeu, Nathalie Gingold, Anita Gomes, Bianca Haertel, Bruna Silveira, Thais Santos, Val Teixeira.