Um filme para sentir
#TeIndicoUmFilme: On Yoga: arquitetura da paz
No meio do caos me deparei com um filme antigo, “On Yoga: arquitetura da paz”, e de uma maneira perscrutante a obra pareceu ressoar em mim. Fiquei me perguntando se deveria falar sobre ela nessa coluna, já que em alguma medida o filme pode parecer se conectar com uma visada de mundo (e uma necessidade) complementar a indicação que fiz na coluna anterior.
Além disso, assim como o documentário “EU”, “On Yoga: arquitetura da paz”, também está disponível na plataforma Aquarius, embora faça uma trajetória que percorre diversas outras plataformas. Imaginando a possibilidade de revermos hábitos e revisitarmos o que há em nós de mais profundo nesses tempos em que ciclos tendem a se encerrar, decidi mergulhar na paz e no convite que o filme é capaz de proporcionar.
Portanto, este não é um filme que integra meu acervo pessoal há tempos, mas sim que recentemente se somou à uma reflexão-inquietação cotidiana. Então, ao digitar a palavra ‘yoga’ no google, ele me surgiu. Me surpreendi ao reconhecer o nome do diretor Heitor Dhalia, cineasta que admiro, assinando o documentário de 2017. Trata-se de uma extensão sensível do livro homônimo do fotógrafo Michael O´Neill, alicerçado nos dez anos em que o autor fotografou os grandes mestres da yoga. Há uma beleza e uma poesia tocantes que se alinham experiencialmente às vivências e reflexões que conseguimos acompanhar durante a jornada do filme.
O documentário dialoga com intensão profunda, inteligência e afetividade tocantes com a plasticidade das fotografias de O´Neill. Como a obra não-ficcional surge do livro, preciso desdobrar um pouco sobre como a publicação surgiu. O´Neill, após uma importante carreira como fotógrafo, precisou realizar uma cirurgia na coluna, perdendo o movimento do braço direito. Com o diagnóstico de que nunca mais voltaria a mexê-lo, ele procurou a yoga e a meditação para curar a tristeza e a dor que sentia. Da inconformação do que lhe aconteceu surgiu o livro “On Yoga: Arquitetura da Paz” com fotografias e imagens belíssimas de mestres e práticas de yoga – uma revolução.
A dança entre as imagens e as mensagens que escutamos no filme nos insere completamente na temática proposta pela via da fruição, o que torna a experiência envolvente e sem necessidade de algum tipo de letramento anterior sobre o assunto. Sentir é pensar, algo bem bonito para a estética e concepção da obra. Este é um outro tipo de imersão – reflexão curiosa de elaborar no contexto dessa coluna.
Os 87 minutos de filme nos levam a um estado de paz e relaxamento, e nesse sentido é também uma experiência que expande e nos insere em um momento único. Essa fração de tempo, de absorção da obra, se confunde com o ‘aqui’ e ‘agora’, o presente fundamental sobre o qual o filme reverbera. Simbiose importante que fortalece os ecos da prática.
Para além dos chamamentos de presente e questionamentos dos excessos de futuro que seguidamente nos fazemos para sobreviver na dinâmica do mundo como o conhecemos, a necessidade ocidental frustrada de conceituar as coisas, de explicar, é uma busca interessante que ao nortear o documentário, também se revela uma forma de autorreflexão. Um dos entrevistados apresenta uma dimensão estimulante ao dizer que no Oriente se experimenta a yoga na individualidade e unicidade do corpo, como uma prática de expansão de consciência. Portanto, para a questão sobre o que é a yoga afinal, nenhuma explicação parece ser suficiente. Isto é o que torna o tempo em que assistimos ao filme uma experiência ainda mais interessante.
A produção dialoga com entrevistados não nomeados da Índia, Nova York, Oriente e Ocidente. A visão aborda questões humanas considerando uma perspectiva atemporal que se conecta a movimentos e sons, possibilitando uma nova forma de descortinar a prática. Nossa compreensão vai além à medida que entendemos que a yoga é capaz de transformar a percepção sobre a vida. A direção do filme, juntamente à sua equipe, consegue estabelecer um ritmo interno que nos ajuda a respirar junto com seus tempos intrínsecos e assim compreender em algum lugar de nós essas novas percepções.
“Yoga é você”, diz um dos entrevistados. E isto faz ainda mais sentido, ao pensarmos que ao não sabermos o nome e de onde a pessoa fala, a proposta reflete algo muito maior sobre a própria essência da busca pessoal, esta que primeiro movimentou o livro e depois o filme. Nós somos muito maiores. Maiores do que nossos nomes, atribuições, locais de origem ou onde vivemos. Novamente é sobre nosso eu, em conexão profunda com a vida.
É preciso novamente voltar.
É curativo voltar. Pausar, respirar, sair do fluxo acelerado e doentio em que somos jogados cotidianamente em uma sociedade doente, faltante, que pode nos aprisionar e limitar. Que em 2024 ela não possa. Que este seja o sentido do ciclo.
Ficha técnica:
Direção: Heitor Dhalia | Elenco: Deepak Chopra, Dr. Linda Lancaster, Dr.Dean Ornish, Eddie Stern | Premiações: Melhor cinematografia ABC Cinematography Award, IMAGO International Award; Seleção oficial: Festival do Rio, Cameraimage.
Gostou da indicação? Deixe seu comentários sobre as impressões que teve com o documentário. ;)
gostei vou assistir o filme .. obrigado..