“A organização do futuro será a personificação da comunidade baseada em propósito compartilhado, falando às mais altas aspirações das pessoas.”
- Dee Hock
Muitos dos desafios enfrentados pelas organizações, atualmente, têm a ver com a dificuldade de gestão da cooperação entre suas diversas pessoas e equipes. Meu intuito aqui é compartilhar alguns conhecimentos e experiências para que possamos fortalecer e refinar ainda mais nossa atuação na gestão de pessoas, com foco na Cultura da Cooperação nas empresas.
Diferentes estudos nesse campo convergem para a compreensão de que muitos dos fatores que favorecem a colaboração estão ligados ao que chamamos de ambiente da colaboração, ou seja, à sua cultura: hábitos, atitudes, comportamentos e modos de relacionamento subjacentes da empresa ou equipe. Dentre algumas das descobertas observadas a esse respeito, destacamos que certas equipes tinham uma cultura colaborativa, mas não dominavam a prática da colaboração em si. Tinham incentivos para cooperar, queriam cooperar, mas não sabiam como trabalhar muito bem em equipe.
Apesar da existência de muitas evidências, tanto científicas como empíricas, gestores, executivos, colaboradores, bem como a maioria das pessoas, acreditam que o ser humano está interessado apenas em promover os próprios interesses materiais e não materiais.
Entretanto, estudos recentes em biologia evolutiva, psicologia, sociologia, ciências políticas e economia experimental, apresentados em livros como “O Poder do Nós” (Jay J. Van Bavel, Dominic J. Packerem) e Collaboration: How Leaders Avoid the Traps, Create Unity and Reap Big Results” (Morten T. Hansen), sugerem que as pessoas agem de modo muito menos egoísta do que a maioria imagina. A biologia evolutiva e a psicologia acharam até evidências neurais – e possivelmente genéticas – de uma predisposição humana a cooperar.
Essas descobertas sugerem que em vez de usar controles, incentivos ou ameaças para motivar as pessoas, uma empresa deve criar sistemas que repousam na participação e num senso de propósito comum.
Contudo, grandes pressões por resultados têm gerado tensões que fazem com que pessoas, equipes e organizações se voltem para seus próprios problemas e busquem atender prioritariamente seus interesses individuais. Para transcender esse ciclo vicioso é preciso desenvolver um ciclo virtuoso de compartilhamento, cooperação e bem-estar comum.
Sim, nos relacionar de forma harmoniosa é um bom desafio, como já me alertava o amigo e consultor Endre Kiraly, quando ele me convidava a refletir sobre algumas das perguntas mais quentes sobre esse tema:
Como lidar com as diferenças de ponto de vista?
Como se fazer entender claramente?
Como tomar decisões que tenham a concordância de todos e levem a resultados?
Como lidar com as resistências às mudanças?
Como lidar com minhas necessidades de independência, autonomia e liberdade perante as necessidades de independência, autonomia e liberdade das outras pessoas?
Para ele, a qualidade das relações interpessoais dentro de um trabalho em equipe, nesse contexto, torna-se um fator determinante. Um empreendimento pode contar com a boa vontade das pessoas, ter recursos à disposição, contar com as pessoas capazes de fazer as coisas, mas se não conseguir integrá-las harmoniosamente, criando as condições de cooperação na situação de mútua interdependência, estaremos correndo o risco de permitir que prevaleçam as forças desagregadoras que podem levar à ruína da iniciativa.
E quando eu perguntava:
Endre, então por onde começar? Do que é mais importante cuidar para enfrentar os desafios das relações humanas no trabalho em equipe?
Ele respondia, quase sempre, que precisamos focar na combinação de dois ingredientes.
Um deles tem a ver com os aspectos internos, isto é, precisamos identificar as forças que agem em cada pessoa e no grupo. São aquelas que motivam a ação (motiva-ação) influenciadas pelos seguintes fatores, entre outros:
a) Fatores Externos: Um pai diz ao filho que ele precisa tirar boas notas;
b) Pressão social: Um funcionário procura progredir na empresa porque é isso que se espera dele;
c) Fatores Internos: são pessoas auto-motivadas que agem em função do que julgam ser bom para elas e para as outras pessoas, também.
A partir desse conhecimento, precisamos exercitar posturas, atitudes, comportamentos e modos de relacionamento que busquem a superação construtiva das diferenças. Assim, com a prática, podemos chegar ao desenvolvimento daquelas habilidades sociais que são a base para a colaboração e o desempenho produtivo do grupo. O outro ingrediente tem a ver com os aspectos externos, isto é, precisamos criar condições de trabalho que permitam, apoiem, incentivem e recompensem o desenvolvimento colaborativo das pessoas, equipes e da organização como um todo.
Portanto, as organizações que ficarão conhecidas neste século serão reconhecidas pela inovação eficiente, sustentada, em grande escala.
A chave dessa capacidade não é a lealdade à empresa, nem a autonomia do agir livre: é, sim, uma forte comum-unidade colaborativa.
Para erguer uma comunidade dessas, a empresa precisa dominar um novo leque de habilidades:
Definir e estabelecer um propósito comum.
Cultivar a ética da contribuição.
Desenvolver processos dimensionáveis para coordenar iniciativas de indivíduos.
Criar uma estrutura na qual a colaboração seja valorizada e recompensada.
Atualmente, inúmeras organizações no Brasil e no mundo estão mobilizadas para promover o aprimoramento desse “leque” de competências colaborativas, visando a realização de uma nova cultura corporativa, conforme a inspiração de Elinor Ostrom, de 76 anos, da Universidade de Indiana, que em 2009, ganhou o Prêmio Nobel Comemorativo de Ciências Econômicas, junto com Oliver E. Williamson. Ostrom foi a primeira pessoa na história a vencer o prêmio com uma teoria comprovada sobre a eficiência das sociedades baseadas no bem comum e como elas funcionam. Sua pesquisa demonstrou que até mesmo em sociedades capitalistas, se forem aplicadas algumas regras simples, uma comunidade com organização própria poderá funcionar: os indivíduos cooperarão para agir de acordo com o bem comum.
Acredito que para essa mudança acontecer é importante ajudar a regenerar as relações de aliança e parcerias, presentes em todos os elos das corporações as quais compomos, para que então, a partir delas, possamos co-empreender o desenvolvimento de Organizações Colaborativas de fato, capazes de equacionar a necessidade interdependente de produtividade empresarial com felicidade pessoal, e vice-versa.
SIGAMOS EM CONEXÃO!
💠Festival Internacional da Cooperação: FICOO
"Mais compartilhar, menos competir. Mais relacionar uns com os outros e menos jogar contra. Mais ganhar junto e compartilhar experiências do que ficar só e na sua”. Este é o objetivo do FICOO – Festival Internacional da Cooperação.
A 5ª edição do Festival receberá entre os dias 12 e 14/10, em Brasília, mais de 400 participantes e pessoas convidadas. Daniel Wahl (Alemanha/Espanha), May East (Brasil/Escócia), Fábio Eon (Unesco), Helena Marujo (Portugal), Edgard Gouveia, Ita Gabert (Alemanha), Iara e Eduardo (Caçadores de Bons Exemplos), Wilson Nobre, Isabela Crema, Marcelo Castilho, Rodrigo D ́Almeida, Renata Nogueira, Marco Aurélio Bilibio, Magda e Felipe Vila, Roberto Martini e mais de 30 profissionais irão palestrar, dar oficinas, dialogar com o público, com o objetivo de motivar e instrumentalizar a prática da cooperação nas empresas, escolas, governos, comunidades, ongs e em todas as áreas da vida em sociedade. Para mais informações e inscrição acesse o site.
💠Pós-Graduação em Pedagogia da Cooperação e Metodologias Colaborativas
Em uma sociedade tão marcada pela lógica da competição, é possível ser e fazer diferente no mundo.A Pós-Graduação em Pedagogia da Cooperação e Metodologias Colaborativas está com inscrições abertas para iniciar uma turma em setembro no Rio de Janeiro. É realizado pelo Projeto Cooperação em parceria com a UNIP Universidade Paulista, formando especialistas em criar soluções baseadas no design colaborativo e em ativar a cultura da cooperação em grupos. Acontece no modelo presencial em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo e InCompany em local e modelo cocriados conforme a demanda. Mais informações e inscrições aqui.
💠Dica de leitura
Livro: Pedagogia da Cooperação: Por um mundo onde todas as pessoas possam VenSer. Um livro que reúne textos de 27 especialistas e apresenta a abordagem completa da Pedagogia da Cooperação, desenvolvida há 17 anos no Projeto Cooperação, recheada de experiências e seu enlace com diversas metodologias colaborativas.
💠 Encontro fechado com a Comunidade Travessias
Encontrar lugares seguros para poder falar das próprias incoerências pode ser uma forma de abrir brechas de mudanças aos poucos. No dia 31/08 estaremos juntos, em um encontro online para refletirmos sobre esse tema que está dando o que falar. Já coloque na agenda!
E se inscreva aqui. 😉 Caso você conheça uma pessoa que possa se interessar em participar, abrimos a possibilidade de cada integrante trazer mais um amigo para a roda.
Na Comunidade Travessias além de apoiar nosso trabalho e fazer parte de encontros para trocas mais profundas, você também terá acesso a conteúdos, experiências e descontos exclusivos. Veja alguns bônus:
1 texto exclusivo por bimestre, escrito por uma pessoa convidada especial. A coluna #Para Ler na Rede;
2 Mergulhos por bimestre - sugestões de práticas para aprofundamento dos temas da Travessia e fóruns de diálogos sobre o que cada pessoa vivenciou;
1 Encontro online com os membros da comunidade, a cada bimestre, para aprofundarmos nossas conexões e celebrarmos (na plataforma Zoom);
Acesso gratuito por 2 meses a 1 curso/vivência gravado por um dos colunistas;
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