📚te indico um livro #3: UM NOVO MUNDO É POSSÍVEL
Para aprender algo novo todos os dias...
“Mas é que… se conhecer de verdade, coragem… que coragem!"
Foi com esse refrão que a playlist da travessia 3 começou. E ele também abre o texto de hoje, pois se existe uma boa palavra para definir a autora do te indico um livro desse mês a palavra é essa: CORAGEM.
Coragem de olhar para dentro, rever suas próprias certezas, mudar de rumo e ainda escrever um livro em que traz suas histórias e processos internos para guiar uma narrativa que nos ajuda a vislumbrar perspectivas mais generosas e colaborativas sobre o mundo, a partir de sua própria experiência.
Estou falando da Adriana Hack, autora de Um Novo Mundo É Possível, publicado pela Bambual Editora.
A Adriana é pesquisadora sobre comportamento humano há mais de 20 anos e já recebeu o Prêmio de Profissional do Ano em Pesquisa pela ABP. Mas, neste livro, não vemos apenas a Adriana profissional, de títulos e reconhecimento, mas também a Adriana menina-mulher-mãe-viajante-amiga-buscadora-humana, em busca de desaprender para aprender novamente.
“Rever os princípios que constituem a base de nossas relações é o grande ponto de partida de Um Novo Mundo Possível.” Essa, sem dúvidas, é uma leitura que nos ajuda a perceber que é preciso ir além daquilo que achamos já saber e que a sabedoria é construída, não apenas do ponto de vista técnico, acadêmico, mas sim com todos os nossos sentidos e no coletivo.
A Adriana topou bater um papo sobre o livro e seu processo de escrita e o resultado trago aqui abaixo. Espero que as palavras dela possam inspirar novos mundos dentro de cada um que passe por esse texto.
Jogo rápido com a autora e grifados no livro:
Possíveis perguntas que você também faria para Adriana Hack depois de ler a obra - mais um apanhado de trechos grifados durante a leitura.😉
O tema que estamos percorrendo na travessia desse mês é “CONHECIMENTO NÃO BASTA”. Essa frase considera que é preciso fazer, pelo menos, duas coisas com o aprendizado que vem à tona: A primeira delas é ter coragem de perceber novas perspectivas (internas e externas) e a segunda coisa é tornar o conhecimento uma prática. No seu livro eu percebo que você sempre passou por esses caminhos. Tendo coragem de mudar as próprias crenças e colocar em prática as novas perspectivas que foi descobrindo no decorrer da sua vida. Como foi escrever sobre a sua própria história, entrelaçando com essas novas visões de mundo que ia descobrindo?
Adriana: O exercício de escrever foi um desafio enorme, porque escrever sobre você é um processo profundo de autoconhecimento. Você se obriga a se olhar, se analisar, se perdoar e a celebrar as coisas que você conseguiu transformar. Escrever sobre mim, a partir de novas visões de mundo, só aconteceu quando eu me permiti quebrar meus paradigmas e mudar o ponto de partida do meu olhar... Eu comecei a me questionar:
E se não for para melhorar o que estou fazendo? E se for sobre mudar o meu ponto de partida? A forma como eu enxergo o mundo? Talvez não seja sobre como melhorar as coisas, mas sim uma mudança de lógica, uma mudança de lugar. Uma verdadeira quebra de paradigma, onde a gente deixa pra trás tudo o que nos foi ensinado e começa de um outro lugar, mais novo, mais intuitivo, com menos conhecimento externo e mais conhecimento que vem de dentro, da nossa própria alma...
Só quando eu realmente virei essa chave é que eu pude aproveitar as experiências de viver a vida sobre uma nova lógica. E aí, as coisas passaram a fazer mais sentido pra mim.
O livro é construído a partir do que você chama de VALORES DOS NOVOS TEMPOS, que dão os títulos de 12 capítulos. Pode falar mais sobre os motivos que te levaram a escolher essa estrutura?
Adriana: Quando a gente muda nossos valores, tudo se ressignifica a nossa volta... É inevitável! Se você quebra uma crença, como por exemplo, a crença que o conhecimento externo é soberano ao nosso instinto, toda a sua forma de ver o mundo se transforma, você para de pensar as coisas e começa a sentir as coisas, e assim, sua relação com a natureza, sua relação com o corpo, sua relação com o trabalho, seu posicionamento de vida, sua relação com a educação, com o dinheiro, com a alimentação, mudará radicalmente.
Foi assim que nasceu a mandala de transformação: a partir das mudanças de crenças que eu vivenciei e que acredito nortear as mudanças dessa nova era.
O ponto de partida dessas mudanças foram:
Quando minha relação com o capital mudou radicalmente (deixei de viver pra consumir e passei a viver para sentir),
O reconhecimento de que somos seres interligados e colaborativos e não competitivos e individuais (o que muda toda a forma de se relacionar consigo e com o mundo)
A noção que a intuição é um valor fundamental (nós chegamos ao mundo com saberes internos e não dependemos só do conhecimento externo), esses 3 pontos que apresento no livro norteiam os 12 capítulos de temas da vida que podem ser olhados a partir de uma nova lógica.
Grifei no livro: “Foi nesse momento que vivi minha primeira experiência dolorosa de conscientização em relação ao consumo. (…)Naquele dia eu chorei e pensei naquela frase clássica: ‘O que eu estava fazendo da minha vida?’ (…) Nesse mesmo período circulou na internet um vídeo famoso do Mujica sobre 'como você quer gastar seu tempo de vida?’, do Projeto Human, que acabou por me conscientizar e ajudar a traduzir a dor que senti por ter me tornado uma consumidora inconsciente. Confesso que toda vez que vejo esse vídeo fico sem fala…
Pode contar um pouco sobre como surgiu a vontade e a ideia de escrever esse livro? O título já era esse desde o início ou ele veio depois que você percebeu a narrativa trilhada?
Adriana: Quando me apresento, costumo sempre falar o que eu não sou, não sou especialista, acadêmica, influencer, trendhunter, nada dessas coisas... Tive a honra de ter minha vida guiada pela escuta, meu trabalho desde os 20 anos é reunir histórias sobre pessoas comuns e narrar mudanças de comportamento. (O que chamam de pesquisa qualitativa).
Percebi que ouvir pessoas me tirava instantaneamente da minha bolha, do meu pequeno mundo e me levava a diferentes reflexões, diferentes contextos, me trazendo muitas possibilidades de enxergar o mundo sob novos ângulos...
Foi por isso que quis escrever esse livro, para compartilhar histórias que nos ajudam a enxergar a vida por novas perspectivas, nem minhas, nem de alguém famoso ou especialista, apenas histórias da vida que muitas vezes tinham diferentes consequências. Boas, ruins, mas sempre verdadeiras
O nome UM NOVO MUNDO É POSSÍVEL demorou a se revelar, veio por último, como uma afirmativa propositiva, de acreditar que podemos mudar a nossa realidade. Espero que esse nome extrapole o nome do livro e se torne um manifesto, um movimento de acreditar que podemos fazer diferente e viver diferente da forma que nos ensinaram...
A clássica frase do Gandhi “Seja a mudança que deseja ver no mundo” foi uma inspiração e tanto, porque o novo mundo que estou me referindo neste livro é o novo mundo que existe dentro de cada um.
Uma pergunta tentadora de se fazer… Qual foi o capítulo (ou seja, o valor) mais difícil de escrever? Por que?
Adriana: Sem dúvida, foi o capítulo do TRABALHO (reconhecendo seu real significado). Esse tema foi muito difícil para mim, porque trabalho muito e sinto que perdi muitos anos da minha vida cumprindo tarefas, na paranoia da produtividade, buscando reconhecimento profissional, sem perceber, que eu não sou o meu trabalho.
Ao longo da minha vida, me perdi de mim mesma, como digo no livro: ganhei muita independência, mas perdi autonomia.
Perdi muito tempo e fiquei tão acelerada que perdi o tempo da natureza, perdi o compasso da vida em comum, perdi a paciência, e o que mais doeu, perdi a minha sensibilidade, e por estar nesse espaço tão insensível, nem percebi que havia perdido tudo isso.
E a relação com o trabalho é tão visceral para as pessoas no dia de hoje, que mesmo tendo consciência de tudo isso, ainda é difícil equilibrar essa balança.
Vivo no exercício diário de equilibrar o desejo da independência com a perda de autonomia.
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Outra pergunta tentadora e acho que muito difícil de responder… mas lá vai: Se você tivesse que indicar apenas um capítulo para uma pessoa ler, qual seria? Por que?
Adriana: Uau!!! Essa é uma pergunta difícil, mas acho que seria o último capítulo ESPIRITUALIDADE: CONFIANÇA NO PROCESSO, porque foi nele que eu desmancho tudo que eu aprendi para reconhecer que não sabemos nada, que o processo da vida é criador, que nada dura para sempre, que vivemos a partir da experiência da impermanência e que tudo, tudo mesmo, irá morrer um dia para nascer algo novo, até mesmo a gente, essas palavras, o próprio livro um dia simplesmente sumirá...
Foi quando entendi que o vazio é mais bonito do que qualquer coisa. Ao invés de fortalecer as nossas crenças, devemos deixá-las ir embora, só abrindo espaço para o vazio seremos capazes de entrar em estado de criação, e só me desapegando de qualquer experiência que eu vivi, é que eu vou ter espaço para viver coisas novas e mudar o que eu penso todos os dias.
E quem sabe um novo livro nascerá desse vazio tão difícil de alcançar nos dias de hoje…
Opa!! Expectativas já foram criadas por aqui… 🙃
Estou feliz com a notícia de que a Kombi Novo Mundo vai pegar a estrada e estacionar na FLIP! Pode contar um pouquinho da história dessa Kombi?
Adriana: A kombi é um xodó na minha vida e está comigo há mais de 10 anos.
Sempre tive um sonho de dirigir pelo Brasil atrás de histórias de pessoas que vivem em cidades pequenas. Como ouvinte, meu trabalho me permitiu conhecer histórias de pessoas que vivem em grandes centros, mas acredito que a vida em cidades menores, tem uma força diferente: da comunidade, da intimidade, do cuidado com o outro que a cidade grande perdeu... e algum dia, quero ir com a escuta aberta para mergulhar nessas histórias e resgatar em mim o espírito da comunidade, da intimidade e do cuidado que sinto falta no meu dia a dia corrido e comum da cidade grande.
Essas histórias dariam um ótimo livro, hein? Como você gostaria de fechar essa conversa?
Adriana: Termino com uma frase que cito no livro que mudou muito a minha vida:
“quem acha que sabe tudo, perde a chance de aprender algo novo todos os dias”.
Uau!
E eu termino perguntando a você que nos lê: O que você quer desaprender no dia de hoje? Deixa aqui nos comentários… Quem sabe não sai uma inspiração para uma nova travessia?
Já leu o livro e tem uma pergunta para a Adriana? Escreva aqui nos comentários que a gente busca a resposta. (Vale também para quem ainda não leu, mas ficou curioso com a obra, claro).😉
Bora pra FLIP?
O projeto Um Novo Mundo É Possível inspirou o conceito da CASA NOVO MUNDO, cocriada pela Bambual Editora e NC Curadorias, que vai oferecer uma programação especial e gratuita durante a 20ª Festa Literária Internacional de Paraty, a FLIP!
A programação contará com nomes como Marcela Ceribelli, Agenor Gomes, Renata Di Carmo, Marley Verato Tupan, Santosha Natália Garcia, Israel Coifman, Cássio José, Camila de Sá, Tania Alice, Buda Performer, Talluana Nogueira, Mônia Rommel além da Unidiversidade da Quebrada, do TeSer Juntas e do grupo musical Flor das Águas.
A Casa Novo Mundo fica próxima à orla da Praia do Pontal, a menos de cem metros da tenda principal da FLIP, e estará aberta ao público nos horários da programação. Além das atividades na Casa, serão feitas ativações surpresas na kombi.
Confira a programação aqui e organize-se para conhecer a kombi que a Adriana citou lá em cima… (E quem sabe pegar um autógrafo com ela?).
Reverberações da travessias #3:
→ A Pri Almeida descobriu que esse é um espaço que todos podem escrever e iniciou uma newsletter por aqui também. Neste primeiro texto ela traz seus novos aprendizados na terra da árvore de bordo… Vale a pena a leitura! “Deixar a vida escapar do meu controle de compreensão e de qualquer construção de resposta…” <3
→ Conhecimentos vs Experiências de vida: O Pedro Cirri cruzou com essa fala preciosa do Yuval Noah Harari e se lembrou da travessia #3: Conhecimento Não Basta. A reflexão de Harari vem em consonância com o papo com a Adriana Hack também, sente só:
Na próxima semana sai o terceiro episódio do li, grifei, compartilhei e na outra semana um resumão de tudo que rolou na CASA NOVO MUNDO, na FLIP 2022.
Que tal criar uma conta no substack (essa plataforma gratuita em que estamos disparando os e-mails) e participar mais ativamente das nossas trocas? Não queremos monólogos, queremos trocas de conhecimento e ampliar o repertório com a sabedoria inata que existe em cada um. Se você sentir vontade de compartilhar algo que está fermentando por aí, deixe um comentário, escreva um texto ou comece um fórum por aqui.
Nos vemos em breve! ;)
Amei!
A cada edição a Travessia fica ainda melhor! ❤️