É preciso dar espaço para as metamorfoses ambulantes...
travessia #16: transformar
“Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”
- Antoine-Laurent de Lavoisier
Quem já acompanhou a gestação de uma pessoa por perto, plantou uma semente de girassol ou fez um pão de fermentação natural sabe, na prática, que a vida é feita de transformações.
Em dois meses a barriga cresceu. Em dias, a semente que mal conseguia ser enxergue transformou-se em um pequeno caule verde com duas folhinhas. E, em algumas horas, a mistura de fermento, farinha e água virou um delicioso pão.
São transformações grandes, mas para olhos apressados e desatentos podem parecer um processo banal.
O que dizer então das transformações profundas e sutis que acontecem dentro de nós? Se esquecermos que tudo está em constante mutação corremos o risco de nos tornarmos pessoas rígidas, apegadas a velhas versões de nós mesmos. Que desperdício seria bloquear a transformação de um pão, não? Quando nos agarramos aos nossos padrões antigos, de ver e atuar no mundo, com medo do que podemos nos tornar, continuamos sendo só uma mistura de água e farinha.
A rigidez de velhos comportamentos e pensamentos faz todo mundo perder. Estamos vivendo tempos que nos pedem mudanças profundas e estruturais.
É melhor sermos “metamorfoses ambulantes", como diria Raul Seixas.
É preciso dar espaço e fermentar o que queremos ver transformado
Como disse Lavoisier, na frase que abriu essa travessia, tudo na natureza passa por uma contínua transformação, onde a matéria não se cria do nada nem desaparece, apenas muda de forma e função.
Na natureza tudo é dança e mudança. Nada surge do vazio, nem desaparece ao acaso; cada coisa se veste de novo, numa eterna troca de formas.
E, como somos natureza, iniciamos a última travessia do ano com um chamado para transformar as coisas que queremos ver evoluir e para cultivarmos um olhar de apreciação das transformações.
Neste bimestre vamos navegar por esse tema com diversos olhares. Como podemos transformar a forma de pensar as cidades? Convidamos May East, urbanista internacional e designer de projetos regenerativos, para nos presentear com um artigo que mostra como mulheres transformam as cidades por meio de redes colaborativas e descentralizadas, promovendo urbanismo inclusivo e inovador.
Também refletiremos sobre como os saberes da Terra, das plantas e do campo sutil podem apoiar nossas transformações. Yarimã Tlahpaliani é a segunda colunista convidada do bimestre e vai trazer sua pesquisa viva sobre o assunto em uma coluna especial e também para o encontro do mês.
Além delas, as colunistas fixas seguem em travessia com a gente. Quer receber essas colunas semanais? Se ainda não se cadastrou, deixe seu e-mail aqui:
Há muitas transformações que não podemos enxergar a olhos nus
Desejo que neste finalzinho de ano a gente possa olhar com carinho para tudo aquilo que já transformamos (dentro e fora de nós) e para tudo aquilo que ainda queremos transformar.
Esse período pode causar uma certa ansiedade e desânimo se focarmos naquilo que “ainda” não se transformou. Mas, retomando a travessia #2, quero te convidar a confiar no tempo das coisas.
Têm transformações que não se apressam:
A cura, a semente de girassol plantada na semana passada, o processo psicanalítico, a transição de modos de vida de toda uma sociedade, tirar um projeto do papel, a escrita de um livro, o amor, a chuva, a poesia…
Essas são coisas, sutis e profundas, que quando olhadas de fora, pode parecer que estão em um processo estagnado, mas que se pudéssemos analisar com uma lupa veríamos o processo acontecendo, passo a passo…
Arrisco a dizer que são esses processos, que se transformam devagarinho, os mais bonitos das nossas vidas.
Boas transformações conscientes para a gente!
Seguimos.
💠Encontro do mês:
Diálogos com almas vegetais: Transformação através dos saberes da Terra, das plantas e do corpo sensível.
Dia 28 de novembro (quinta-feira), às 19h, Yarimã Tlahpaliani vai conduzir uma prática para vivenciarmos as transformações a partir do corpo, da escrita e das plantas. Vai ser lindo.
Para participar, basta fazer parte da Travessias Comunidade Digital. Como participante da comunidade, você também terá acesso aos encontros ao vivo