📚te indico um livro #5: Boon Na Minha Vida - Uma Jornada Pela Ásia
Descolonizar o olhar para enxergar a beleza
Desde que a travessia #5: A Beleza das Coisas Imperfeitas foi enviada, na semana passada, uma coisa não sai da minha cabeça: mas, pera aí, o que é a imperfeição?
Recebi mensagens como: “esse texto me ajudou a aceitar tal fato sobre mim” ou “estava precisando ler isso para conseguir ser menos crítica com tudo."
As palavras aceitação e crítica ficaram ressoando. Não sei se é o caso de aceitarmos alguma coisa. Acho que está mais para mudarmos a concepção do que é feio, errado, imperfeito, incompleto.
Refleti sobre como o padrão belo X feio, certo X errado, perfeito X imperfeito faz parte da velha lógica ocidental, em que vê o mundo de maneira mecânica, dual, que tenta colocar tudo em caixinhas simétricas e o que não se encaixa é rotulado como algo diferente. Uma visão que desconsidera a subjetividade e complexidade de tudo, sobretudo dos seres humanos.
E se não existisse a imperfeição?
E se você conseguisse enxergar que as coisas que você considera que estão dando errado ou que estão imperfeitas em você ou na sua vida, na verdade, apenas são como são?
Precisamos atravessar esses modos de ver e interpretar o mundo.
Precisamos “desocidentalizar” o olhar, pensei.
E, por que não, criar até novas palavras?
Quando a palavra “desocidentalizar” brotou em minha cabeça, imediatamente me lembrei do livro da Nicole Wey Gasparini que havia começado a ler no final do ano passado: Boon na Minha Vida -Uma Jornada Pela Ásia (Bambual Editora). E foi a deixa perfeita para que eu pudesse retomar a leitura.
O te indico um livro #5 não poderia ser outro! Esse era o livro perfeito para complementar a leitura do início de janeiro: Wabi-sabi: para artistas, designer, poetas e filósofos (Ed. Cobogó).
Enquanto Wabi-sabi me revelava um conhecimento teórico e filosófico sobre uma estética associada ao zen budismo – que nos incentiva a sair desse olhar dual e ocidental, Boon Na Minha Vida me fazia viajar e perceber –na prática– como esse padrão ocidental de interpretar a vida pode ir se dissolvendo…
««Bateu curiosidade para conhecer esses livros? Aproveite os descontos que as editoras programaram: Wabi-sabi com 10% de desconto, usando cupom: WABISABI10. E o Boon Na Minha Vida com 25% de desconto usando o cupom: #travessia5. Depois das leituras, me conta o que achou? »»
Boon narra a imersão da brasileira, Nicole Wey, pela Ásia – aos 21 anos. Uma aventura que mudou sua vida para sempre. Durante seis meses em que mochilou e trabalhou como voluntária em cinco países asiáticos, registrou sensações, descobertas e aprendizados em três diários que levava consigo.
Durante a história a gente percebe que Nicole vai se transformando a cada novo acontecimento e começa a ter um olhar diferente para as situações, cenas e paisagens de maneira fluida.
No hinduísmo, boon significa um presente ou uma bênção que os deuses entregam a uma pessoa para que ela saia de uma situação delicada; também pode ser considerado um presente dos deuses em um momento inesperado.
A Nicole topou bater um papo sobre seu próprio boon e o resultado trago aqui abaixo.
Mas, antes, vêm se encantar com as imagens e vídeos extras que aparecem durante a leitura. (Sim! É um livro transmídia, com QR codes que nos levam a esses álbuns coloridos no Instagram 🧡)
Jogo rápido com a autora e grifados no livro:
Possíveis perguntas que você também faria para a escritora depois de ler a obra e um apanhado de trechos grifados durante a leitura.😉
““Ásia exige tempo para digerir cada característica, cada sabor; a falta de uma lógica clara. Muito daquilo que acontece na Ásia é de difícil compreensão na ótica ocidental, da lógica e da racionalidade. O melhor que o visitante pode fazer é justamente interiorizar a subjetividade e a fluidez inerentes à cultura oriental, aceitando as situações e confiando que ‘tudo dá certo no fim’, como me disse certa vez minha prima Belle.
(…)
“Pode parecer que não, mas na Ásia tudo dá certo no final, mesmo que funcionando em uma lógica diferente”
Na prática, como você integrou esses aprendizados e esse olhar oriental para os acontecimentos, mesmo depois do fim da viagem?
Nicole: Eu sinto que a Ásia não tem uma lógica de começo, meio e fim. É tudo mais fluído, principalmente no sudeste asíatico. Pode parecer meio caótico para alguns, mas isso é uma grande potência.
Para uma pessoa que tende a ser mais controladora, como eu, a Ásia me trouxe – na pele – o "relaxa e confia… se for pra ser vai ser". Sinto que depois dessa viagem eu tenho uma real confiança no Grande Mistério, sabe? Essas culturas me trouxeram uma leveza para a minha vida, de não ficar agarrada a um script ou um único planejamento. Sinto que fiquei mais aberta aos caminhos que se abrem diante de mim.
"Sabia que dali em diante eu precisaria treinar minha paciência e o meu confiar: nem tudo funciona como nós prevemos ou desejamos. Relaxar, nesse aspecto, permite fazer as coisas fluírem com mais calma e aproveitar cada momento aceitando seus imprevistos.”
“Confiar e aceitar que nem tudo funciona como prevemos ou desejamos” é uma tarefa que não costuma ser fácil para a maioria de nós, mas sinto que em viagens algumas pessoas estão mais abertas para as aventuras. Minha sensação é que, às vezes, acaba sendo mais fácil se abrir ao desconhecido e estar aberto a mais possibilidades viajando do que no dia a dia. Costumo brincar que para não perder o encantamento e abertura é preciso ter olhos de turista na cidade em que você mora. Como a estrada é seu lar, qual dica você dá para que essa abertura e esse “olhar de turista” continuem no dia a dia, mesmo quando não estivermos de férias?
Nicole:Uma coisa que me ajuda muito é partir do princípio que eu não sei de nada. Um bom exercício é realizar as coisas que você sempre faz, mas de um modo diferente.
Você pode se reinventar e procurar sair da sua "zona de conforto" buscando mudanças naquilo que você faz todos os dias, como tomar café, ir para o trabalho, tomar banho, ouvir música, fazer exercício físico… Pensar novas formas de fazer tudo isso é um bom jeito de descobrir novos aspectos de si mesmo.
Assim você pode começar a se tratar como um experimento, brincar mais com novas formas de viver. De repente você pode se perguntar: "Por que eu sempre começo um diálogo perguntando com o que a pessoa trabalha, ao invés de perguntar o que faz ela feliz?"
Em viagens fica mais fácil, porque nós já estamos fora da rotina, então ficamos mais abertos a nos experienciar. Mas por que não se disciplinar a ter uma rotina de mais experimentação e menos verdades absolutas?
“Na hora que desci do ônibus, fotografei com o coracão a imagem que vi: o olhar sorridente dos dois que acompanhavam um sorriso ainda mais simpático florescendo de seus lábios que, juntos, perguntavam se eu era Nicole. A alma pura dos dois se deixou transpassar e eu me entreguei de amor no primeiro momento.
(…)
Garima dizia que sua casa ficava no paraíso, com uma linda vista para as montanhas, rodeada de animais, de árvores frutíferas, alimentos orgânicos e com a brisa perfeita do vento, que não deixava que a temperatura não fosse nem quente, nem fria demais.
Quem lê a descrição inicial do capítulo em que você encontra Garima e seu pai, Khrisina, nem imagina que o território deles tenha sofrido tanto com o terremoto de 2015. O que a Garima te ensinou sobre a imperfeição das coisas?
Nicole: A Garima que eu conheci, aquela menina de 11 anos, talvez nem tivesse o entendimento de que algo é imperfeito. Acho que ela diria que a imperfeição não existe.
Tudo o que ela via era visto com um olhar de encantamento profundo. Fernando Pessoa tem um poema que fala sobre "o eterno olhar de criança que descobre o mundo". A Garima tinha esse olhar puro, que descobre a mágica, o milagre em cada pequeno detalhe que aparece por seu caminho.
Eu valorizo demais esse olhar. E trago para minha vida esses olhos de Garima. De enxergar o milagre em tudo. Se vejo uma flor, quero olhar para cada pétala que se abriu, cada detalhe. Podemos ver uma árvore gigante e majestosa, que um dia foi uma micro semente… São milagres que estão ao nosso redor, quando criamos essa percepção sensível e aguçada não tem como não acreditar na magia e na perfeição de tudo. Quando buscamos algo “perfeito” dentro e fora de nós a gente se desconecta do real. Estamos buscando algo desumano, porque somos maravilhosos, justamente por sermos assimétricos, únicos.
Eu desejo que cada um possa ter o olhar da Garima dentro de si.
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O MEU OLHAR É NÍTIDO COMO UM GIRASSOL
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
- "O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.