Uma coisa é certa para esse ano: Vamos errar. Eu, você, o vizinho e até a pessoa mais estudada, engajada e crítica que conhecemos. Mas com tantos erros, como será possível fazer a transição para um viver mais harmônico com todos?
Nossas rotinas serão menos perfeitas do que desenhamos na primeira semana de janeiro. Eu torço muito para que todos os planos deem certo, mas cá entre nós, eles podem sair um pouquinho fora do planejado inicialmente, né?
Calma. Não estou elucubrando essas coisas para desanimar ou agourar alguma coisa. Pelo contrário. Eu estou aqui para exaltar a beleza que existe nos contratempos. Nas nossas imperfeições. A beleza que existe no “erro”.
Decidir começar o ano olhando para isso não é por acaso. Este período costuma ser de muito planejamento e a maioria de nós cresceu com uma mentalidade de que é preciso seguir caminhos que evitem os erros. Ouvimos por toda uma vida que falhar é a pior coisa que pode nos acontecer. Será?
Há outras pessoas que dizem que o pior que pode acontecer é deixar de fazer algo por medo da falha. E isso se estende para todas as áreas da vida. Com medo da frustração, nós podemos deixar de viver muitas coisas. Corremos o risco de deixar um projeto de lado, de não embarcar em um romance, de não continuarmos o nosso hobby, de não iniciarmos um esporte ou uma rotina de hábitos mais ecológicos.
Este custo da busca pela vida ideal e por uma atuação no mundo de forma impecável pode começar a ficar muito caro. E o motivo é simples:
Viver é confuso. Com um caminho muito menos linear do que gostaríamos. E cheio de variáveis. Mas, ainda assim, bonito.
A vida é imperfeita, transitória e incompleta. E há beleza nisso. Desde que a gente limpe o olhar ocidental para saber apreciar esse viver. Refleti sobre isso ao ler Wabi-sabi: para artistas, designers, poetas e filósofos, de Leonard Koren, publicado pela Editora Cobogó.
Wabi-sabi é um conceito japonês, filosófico e estético que ressalta a beleza das coisas imperfeitas, simples, modestas e não convencionais. É como um antídoto contra uma sociedade que perdeu a sensibilidade e um entendimento mais complexo da vida, da beleza e do tempo.
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Ler este livro ao mesmo tempo em que fazia uma balanço do ano que passou me ajudou a pegar mais leve comigo e a enxergar a boniteza dos erros do passado, o que trouxe também uma abertura para os erros que, infalivelmente, virão.
Por isso, antes de colocar meus sonhos e metas no papel, escrevi três grandes conselhos para que, ao longo do ano, eu possa lembrar que somos todos imperfeitos e isso é lindo.
Se você também estiver precisando limpar o olhar para enxergar com mais leveza os erros que virão, compartilho aqui essas novas possíveis formas de lidar com o imperfeito.
1- Olhe para os seus erros do tamanho que eles são.
"O que de pior pode acontecer se algo der errado?”. Acho que essa é uma ótima pergunta para refletir quando estamos travados pela busca da perfeição. Também pode ser bom olhar para os erros que já aconteceram na sua vida. Você pode lembrar, por exemplo, de algum erro que cometeu no trabalho. No momento em que tenha percebido o erro, talvez, pode parecer que era a pior coisa do mundo. No entanto, passado algum tempo, hoje você consegue até rir do acontecido…
2- Ouse se colocar no mundo de maneira imperfeita.
Se você tem o plano de ser uma pessoa mais saudável em 2023 se joga, mesmo sabendo que - talvez- a quantidade de visitas ao parque seja menor do que a que você escreveu no caderninho de metas no início do ano.
A mesma coisa vale para os planos de ter uma vida mais ecologicamente correta. Quanto mais a gente estuda, lê e debate sobre o assunto, mais críticos em relação a nossa conduta nós ficamos. Claro, isso tem um lado bom, mas também pode ser extremamente frustrante perceber que não vai dar pra ser 100% ecológico vivendo na cidade. Gosto sempre de lembrar de uma frase da Lívia Humaire, autora do Negócios Eco-lógicos: “Em um mundo insustentável, não tem como fazer uma empresa 100% perfeita - ecologicamente falando”. Mas, nem por isso, nós devemos abandonar o desejo e intenção de construirmos algo melhor, certo?
Esse aqui também vale para os seus hobbies. Não vai deixar de cantar, porque julga não ser uma pessoa afinada o suficiente e nem deixar de desenhar, porque fica se comparando com outras pessoas, combinado?
3- Ouse apreciar a imperfeição das coisas.
Mais do que se permitir errar, encontre a beleza nas suas próprias imperfeições.
Ao fazer uma pesquisa para escrever esse texto, me deparei com inúmeros exemplos de artistas visuais que ao largarem seus medos e a busca pela perfeição, finalmente, conseguiram colocar suas obras no mundo. Não que elas estivessem perfeitas, mas elas estavam como deveriam estar. E o melhor? Eles conseguiram apreciar suas obras.
É como diz a filosofia wabi-sabi que comentei lá no início: caminhar com leveza sobre o mundo e saber apreciar o que surgir pelo caminho, não importa quão insignificante, em qualquer lugar em que estiver. Pobreza material, riqueza espiritual. (…) Em outras palavras o wabi-sabi nos diz para deixar de lado a preocupação com o sucesso- riqueza, status, poder e luxo- e aproveitar a vida desimpedida.
Quando a gente se abre a essa apreciação, uma xícara de cerâmica moldada por uma criança tem muito mais beleza do que uma xícara feita em série. E se podemos olhar com admiração para um trabalho manual autêntico, acho que podemos olhar para os nossos próprios caminhos dessa forma também.
Acho que a perfeição, afinal, está em imprimir a nossa alma nas coisas.
Que 2023 seja de mais acertos do que erros, mas que os erros sejam sempre parte da construção dessas pessoas que queremos ser.
Um apanhado de materiais que cruzei no mundo digital e que vale a pena compartilhar para você também abrir, ler e salvar nos favoritos. ;)
→ “Como é que a poeta lida com o erro? O erro é construção”. Esse é um dos trechos da entrevista que a poeta Matilde Campilho concedeu ao Eric Nepomucenno, no programa Sangue Latino do Canal Brasil.
Para assistir a entrevista completa (que vale a pena!) clique aqui.
→ Não tem como falar sobre olhar com amor para a imperfeição, sem lembrar de Brené Brown, autora de A Arte de Ser Imperfeito e O Poder da Vulnerabilidade. Os livros fizeram muito sucesso e foram best-sellers há poucos anos atrás. Esse TED Talk de Brown é sempre atual.
Como diria Gal, tudo é divino, tudo é maravilhoso…Mas é preciso atenção ao dobrar as esquinas. Um resumo de notícias que precisamos nos atentar e agir:
→ No último domingo vivemos um dos mais graves atentados contra a democracia brasileira, articulado por grupos Bolsonaristas. Mas como esse movimentou radical se estruturou no Brasil? Natuza Nery conversou sobre o tema com a antropóloga Isabela Kalil, coordenadora do Observatório da Extrema Direita e do curso de Sociologia e Política da Escola de Sociologia Política de São Paulo. Escute aqui:
→ Para refletir:
O mundo não precisa de mais produtos ou negócios que não impactem positivamente o planeta. Muito pelo contrário, estamos precisando de negócios que resolvam os problemas que a sociedade causou até aqui. A boa notícia? É que já tem uma porção deles surgindo e atuando. Trago aqui um apanhado para que cada um possa se inspirar e apoiar essas novas formas de estar no mundo.
→ Por conta da “cultura da perfeição” muitos vegetais que estão fora do padrão (leia-se: com cascas diferentes ou algo do tipo) são rejeitados dos mercados tradicionais, mesmo que estejam perfeitos para o consumo. Olhando para esse imenso desperdício, o Mercado Diferente seleciona frutas, verduras, legumes e temperos orgânicos e rejeitados pelo mercado tradicional e entrega na porta da da nossa casa. O melhor? A seleção fica até 40% mais barata e tem frete grátis.
O Mercado Diferente atua em São Paulo. Você conhece alguma iniciativa parecida na sua região? Conta nos comentários!
Ficou com vontade de experimentar? Você pode fazer parte desse movimento e ainda ganhar 20% de desconto na primeira cesta. É só clicar aqui neste link.
Sou do time que lê muitos livros ao mesmo tempo e, vez em sempre, abro um livro já lido só para ver alguma parte que grifei no passado. Trago aqui um pouco daquilo que grifei, pois existem trechos que são faíscas e podem despertar uma grande combustão.
Todas as coisas incluindo o próprio universo estão em um movimento constante para se tornar outra coisa ou se dissolver.
(…)
A grandeza existe nos detalhes mais discretos e imperceptívei. O wabi-sabi representa o exato oposto do ideal ocidental da grande beleza como algo monumental, espetacular e permanente.
-Leonard Kohen
(…)
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.(…)
Manuel de Barros
Os trechos acima são um esquenta para o terceiro episódio do podcast #Li, Grifei, Compartilhei,que sai nas próximas semanas.
Enquanto ele não vem, que tal escutar os outros episódios aqui?
Todo mês uma playlist que inspirou a escrita dessa newsletter.
Contrariando a playlist da ditadura-da-felicidade-do-pensamento-positivo-do-sorriso-a-qualquer-custo... o poeta diz que é preciso um bocado de tristeza (e de imperfeição, de errado, de sombra) na cadência de todo bom samba e toda canção.
Nesta playlis pedimos a benção para saudar a beleza das coisas imperfeitas.
A bênção, Vinicius. A bênção, Jeneci. A bênção, João. A bênção, Tim. A benção, Ney. A bênção, todos os grandes imperfeitos do Brasil. <3
Essa é uma pergunta que costumamos fazer ao fim das reuniões da Bambual Editora. É uma ferramenta utilizada pela Teoria U e outros métodos de gestão de pessoas e projetos e se chama check out, ou no bom português: saideira!. É uma boa ferramenta para fazer consigo mesmo e checar como você se sente em relação a variadas situações: encontros, leituras, andanças, trabalhos…
Para encerrarmos esse caminho, me conta: como este assuntou chegou até você? Há algo querendo emergir?
Você também pode compartilhar suas percepções e como essa travessia reverberou em você aqui nos comentários. Assim podemos criar novos diálogos sobre o tema. (Para comentar é só ir até o final do texto).
Essa foi a travessia de janeiro de 2023.
Nas próximas semanas você receberá conteúdos complementares sobre esse caminho imperfeito, mas bonito que estamos trilhando.
travessias é uma newsletter interativa idealizada por Bruna Próspero Dani e Isabel Valle com realização da Bambual Editora, que é dedicada a publicação de livros e projetos para a transição global.