#1 Diário de bordo: histórias de quem mudou a rota
Entrevista com Fernando Cespe da Casa Naara
Diário de bordo é a nova sessão da Travessias - Revista e Comunidade Digital. Aqui vamos entrevistar pessoas que mudaram de rotas e descobrir as travessias com dores e delícias de quem traçou novos caminhos de vida, desafiou o status quo e construiu (e segue construindo) um viver mais regenerativo com mais sentido.
Fernando Cespe é quem abre a sessão e nos presenteia com uma história das boas. Ele tem 45 anos, é pai da Thais, casado com a Marina e é fundador e cuidador da Casa Naara, um Centro Cultural que nasceu no centro do Rio de Janeiro, depois habitou Laranjeiras e agora segue como projeto itinerante pelo Brasil
A Casa Naara é uma grande inspiração por ter sido um espaço colaborativo com produtos, cultura, artes e educação que valorizam o comércio justo e sustentável e que hoje atua no campo da educação sistêmica, estimulando a equidade de gênero e raça em diferentes territórios, servindo à reflexão prática por um mundo mais consciente. Ainda como projeto itinerante tem sido referência de uma atuação de micro-resistências contra as práticas abusivas de mercado, na política e da vida.
Atualmente, o Fernando também é Educador em escolas, ONGs, instituições públicas e privadas e como consultor de diversidade, equidade e inclusão, facilitador e instrutor de grupos reflexivos utilizando Comunicação Não Violenta, Práticas Restaurativas e Teatro do Oprimido.
Bora descobrir como ele chegou até aqui? Leia a entrevista e se inspire com a travessia de Fernando Cespe, um verdadeiro catalisador de mudanças e inspiração para todos nós! ✨
O que fazia e o que faz agora? Conta um pouco sobre a trajetória de transição ou transições que passou?
Fernando Cespe: Atuei por 20 anos (dos 17 aos 37 anos) no mercado corporativo tóxico entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, neste período tive intensas crises de ansiedade e vivia amplamente alienado sobre as dimensões do dano social que existia e causava ao meu redor. Esse cenário adoeceu a mim mesmo e as relações que eu tinha. Somente no fim de 2015 com a minha demissão, ainda morando em São Paulo, que a vida começou a se abrir para novos movimentos e possibilidades com o desenho do que seria o projeto da Casa Naara.
O que te fez mudar a rota? Existiu algum ponto de virada mais marcante?
F: A Casa Naara me fez ter certeza sobre um rastro de trilha para começar, onde chegaria era algo totalmente imprevisível, mas era nítido que estava habitando um território repleto de feridas não cicatrizadas e ausência extrema de cuidado.
A grande conexão e inspiração foram as minhas pesquisas com o Teatro do Oprimido(hoje Teatro das Oprimidas) e uma necessidade de construir uma base de economia solidária ancorada em práticas de comércio justo e vínculo com todas as pessoas que viessem a participar do projeto.
Quais foram os desafios encontrados? Como passou por eles?
F: Os desafios nunca cessaram, desde o momento em que pisei no centro do Rio de Janeiro para iniciar essa jornada tive dificuldades, o ambiente era de incertezas em vários aspectos, um golpe contra a presidenta Dilma estava em andamento no mesmo instante em que eu pegava as chaves do imovel, fora isso tinha a vulnerabilidade econômica e por fim uma parte do território que insistia em dizer que aquilo não era um modelo de “sucesso”.
Os dois eixos marcantes foram, primeiro, o fato de ter participado ativamente da campanha para eleger a Marielle Franco, conhecido ela e sua familia e ter me engajado diariamente em caminhadas a pé pela cidade antes de abrir efetivamente a Casa Naara, algo que ocorreu em outubro, bem nas eleições de 2016. Segundo, foi descobrir que o território tinha sede em apoiar de várias formas o nascimento e manutenção do projeto e isso foi e ainda é a base para formação de todas as raízes que sustentam esse projeto “árvore”, sem isso o projeto não estaria vivo após quase 7 anos.
Quais foram as coisas boas que encontrou pelo caminho graças a essa decisão?
F: As maiores potências são as centenas de pessoas que passaram a fazer parte da minha vida social e afetiva que ofertaram seus conhecimentos, saberes, recursos, carinhos e amor sinceros. Em 2020 e 2021, durante a pandemia, fui entregador das comidas antes vendidas presencialmente na Casa Naara. Dentro das limitações que o planeta enfrentava esse foi um caminho de me manter vivo com o projeto, cada dia da semana eu visitava uma casa diferente onde buscava e realizava as entregas pela cidade, tudo autonomamente, sem uso de aplicativos abusivos.
Em outubro de 2021 fiz uma cirurgia para retirada de um tumor pelo SUS e logo em seguida iniciei ciclos de quimioterapia também pelo SUS, escolher o projeto da Casa Naara me colocou em realidades econômicas vulneráveis e esse foi o caminho percorrido, viver tudo isso num período pandêmico foi menos desafiador pois essa rede de apoio construída até ali foi crucial para me manter firme nesta nova jornada que se encerrou em meados de 2022.
O aprendizado desta jornada é atemporal, meu propósito é retribuir atuando dentro e fora da casa para promover as mudanças exigidas por todas as pessoas que passaram até aqui com suas lutas contra o racismo, sexismo, capacitismo, machismo, preconceito aos indígenas, violações climáticas e por uma alimentação digna, buscar meios de reparação e interrupção destas violências sistêmicas é o propósito atemporal do projeto junto das pessoas aliadas.
Qual leitura te ajudou a navegar pelo mar da transição?
F: Teatro do Oprimido e negritude, autor Licko Turle
O que você gostaria de ter escutado lá no início:
F: Busque estudos, formações e trabalhos que façam você sentir pertencimento emocional e afetivo pelas pessoas em todo território que você habita.
Quais são as perspectivas e planos futuros?
F: Fortalecer as ações da Casa Naara e ampliar minhas facilitações em projetos que visam eliminar as múltiplas formas de opressão, principalmente relacionadas a questões de gênero, raça e LGBTQIAP+, percorrendo diversos perfis de espaços, entidades e territórios pelo Brasil.
A história de quem você quer ver por aqui no próximo diário?
F: Barbara Santos, autora do livro Teatro das Oprimidas
Este foi o Diário de Bordo #1 com Fernando Cespe. Você pode encontrar o Fernando, aprofundar o papo, convidá-lo para sua instituição e conhecer mais sobre ele por estes canais:
WhatsApp: (21) 9 7399-0642 | @casanaara | @homempaterno | @escoladeempatia | @institutodeginecologianatural | Site da Casa Naara: www.casanaara.com.br
Espero que tenha gostado de conhecer um pouquinho da travessia do Fernando.
Tem alguém ou algum projeto que gostaria de conhecer a história atravessada? Mande o nome aqui nos comentários ou no e-mail: ola.travessias@gmail.com
⛵ Sobre a Travessias
A Travessias começou como newsletter da Bambual Editora, mas agora é revista e comunidade digital feira por (e para) quem está em transição.
Travessias celebra o tempo da calma, das trocas reais e que não dependem de um algoritmo. Os saberes aqui compartilhados são transdisciplinares e indisciplinares. Mente, Corpo e Alma. Tudo se entrelaça, se mistura, se dissolve. Assim como na vida: humanos e mais que humanos entrelaçados e compartilhando a faísca que nos mantêm vivos.
É só uma questão de nos relembrarmos de tudo isso… Vamos atravessar?
⛵ Por que se inscrever e fazer parte?
Ao fazer parte, além dos conteúdos em semanais, você também terá acesso a experiências e descontos exclusivos. Veja alguns bônus:
35% de desconto no catálogo do site da Bambual Editora;
Revista Travessias impressa (edição 1);
Encontro online com a comunidade;
Espaço para publicar seu relato de transição;
Outras surpresas para apoiar sua transição.
Mude sua assinatura para a versão paga e faça parte da comunidade automaticamente: