Estamos engatando para o último bimestre do ano e quase sempre é a mesma história: algumas pessoas com medo do fim e outras ansiosas pelos recomeços.
Se você não faz parte de nenhum desses grupos, parabéns! 🙃 Talvez, você esteja conseguindo viver no presente e sabe que tudo tem seu ciclo: seu início, meio e recomeço. E, por isso, o final do ano não te causa nem ansiedade, nem pesar. É só mais um ciclo…
Escolhemos a temática CICLOS para atravessar em novembro e dezembro, porque é notável que essa sociedade mecanicista e linear em que estamos inseridos, está se esquecendo de como é importante viver com respeito a ciclicidade do universo.
Em uma sociedade em que somos incentivados a tratar tudo como máquina, meta, chegada, podemos acabar esquecendo que não somos feitos de botões. Somos compostos de carne, osso, sangue, suor e lágrimas. Um conjunto que nos caracteriza como natureza e não como robôs. E, se somos natureza, seria bom que vivêssemos como tal. A ciclicidade faz parte de tudo que tem vida pulsante.
Por exemplo, ciclo circadiano, tão negligenciado atualmente, dita o ritmo em que o organismo realiza suas funções ao longo de um dia e é regido, principalmente, pela luz. Ele influencia uma ampla variedade de funções corporais, incluindo o sono, o metabolismo, a regulação hormonal e a atividade cerebral. Com a luz do sol, ele estimula a liberação de cortisol, o hormônio que nos deixa despertos e, ao anoitecer, inicia a produção de melatonina, hormônio que induz o relaxamento e o sono.
Já reparou na quantidade de opções de "melatoninas sintéticas" que apareceram nas gôndolas da farmácia nos últimos tempos? Talvez, esse seja um dos sintomas de uma sociedade que não vem respeitando o tempo da luz.
Podemos pensar, também, nos ciclos menstruais que trazem variáveis profundas para as pessoas que menstruam. Ou, na importância das estações e lunações para a agricultura (e, consequentemente, para quem consome alimentos que vem da terra, ou seja, todos nós).
Também é possível pensar a importância dos ciclos nos projetos, como a metodologia Dragon Dreaming faz, por exemplo. E, também podemos prestar atenção aos processos internos e criativos.
Prestar atenção é a chave da coisa.
Se perceber. Perceber qual a lua que está no céu. Perceber como ela afeta as marés e como as marés podem nos afetar.
Você tem tirado um tempo para perceber os ciclos internos e externos que permeiam sua vida? O que ainda é semente? O que já brotou? O que está na hora de podar? O que floresceu? Você colheu? O que está virando adubo? E assim por diante…
Gosto de pensar na ideia de ciclo como algo em espiral, que nunca se acaba, está em constante renovação. Como o ciclo cicardiano, sempre se renovando a cada novo dia.
Essa ideia também nos tira o peso de pensar que existe algum lugar para se chegar. Quando chegamos, tudo se renova e iniciamos mais uma parte da espiral.
"Se esse é seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?"
Esse verso de Fernando Pessoa, no poema "Quando Vier a Primavera" traz uma espécie de aconchego para os mais ansiosos.
A primavera, meus caros e caras, sempre há de chegar. Mas sempre no seu tempo. Por isso, é bom lembrar que não tem como amadurecer algo a força. Viver em consonância com os ciclos é aceitar a impermanência das coisas e perceber a potência que existe em cada fase.
Quem sabe, se soubermos aprender a viver em ciclos, não podemos ser pessoas menos ansiosas ou cansadas?
Nas próximas semanas, nossos colunistas trarão suas visões e recortes a respeito do assunto, mas também queremos ouvir você, leitor da Travessias, como esse tema atravessa sua existência?
Um poema musicado para apreciar os ciclos:
Seleção de livros que tratam os diferentes ciclos de vidas pulsantes
O que nunca te contaram sobre seu ciclo menstrual, de Lara Briden
O bestseller da Dra. Lara Briden, totalmente revisado e atualizado, aborda tratamentos naturais para melhorar os hormônios e ciclos das pessoas que têm ou já tiveram útero.
A beleza do incrível organismo vivo que somos se expressa na delicadeza e inteligência de cada ação que nossas células realizam integradas, se adaptando ao ambiente que se apresenta e sempre a favor da Vida, bem distante da visão mecanicista de que somos máquinas.
Pensamento Vivo - As plantas como mestras, de Craig Holdrege
Este é muito mais do que um livro sobre plantas – embora ele também discorra sobre como podemos desenvolver a capacidade de apreciação mais profunda desses seres vivos.
A inovadora proposta do pensamento vivo é construída pelo autor com o concatenar de percepções que somos levados a ter a cada exemplo, história e reflexão. De maneira didática e guiado sempre pelo que o mundo oferece àqueles determinados a experienciar a si mesmos como participantes conscientes no processo planetário, o autor parte do que é o pensamento-objeto e segue para além da visão sistêmica, em um conhecimento refinado, que nos leva ao pensamento vivo.
Esperança Ativa - Como encarar o caos em que vivemos sem enlouquecer, de Joanna Macy e Chris Johnstone
Com uma metodologia cíclica, os autores propõem uma jornada através da espiral do Trabalho Que Reconecta, desenvolvido há mais de 40 anos e reconhecido mundialmente pela transformação de atitude e manutenção da saúde mental que promove.
Este livro oferece ferramentas e vivências para encararmos as dores que o caos do mundo nos provoca e nos colocarmos em ação e a serviço da Vida, mantendo o equilíbrio. Respeitando as fases internas de dor e esperança que nos compõem.
A Arte de Guardar o Sol- Padrões da Natureza na reconexão entre florestas, cultivos e gentes, de Walter Steenbock
Na primeira parte deste livro, Walter Steenbock conversa sobre agricultura: uma breve história de como a espécie humana tem produzido alimentos, tanto na agricultura hegemônica quanto a partir de outros modelos, inovadores e disruptivos. Na segunda parte, o autor fala sobre ecologia florestal e explica, em uma linguagem quase poética, como as forças da natureza funcionam, seus ciclos e processos ecológicos. Walter nos inspira a perceber os padrões de funcionamento da natureza que ocorrem nas florestas, nas plantas, nos animais, em qualquer célula e, inclusive, em nós mesmos.
Com estas reflexões integradas, caminhamos juntos com o autor para aprendizados quando utilizamos esses padrões na produção de alimentos, rumo a uma reconexão entre o ser humano e o organismo planetário. É isso que a terceira parte do livro aborda.
Excelente um ótimo texto estou divulgando nas minhas redes paz amor e luz para todos vocês
Esses textos são um alento para seguir na vida. Quando leio, não me sinto tão sozinho. Parabéns aos organizadores e envolvidos.