Há um mês me percebi paralisada: eu não conseguia me concentrar nas tarefas cotidianas, responder todos os e-mails, fluir com o dia a dia. Dormir era o que eu mais queria. Dormir e ver séries. E as demandas estavam acumulando, pessoas que precisavam de respostas insistindo e, eu de cá, sem saber ao certo o que acontecia comigo. Minha dor pelo mundo estava muito grande e eu estava anestesiada, sem saber lidar com ela.
Dentre as atividades que eu não tinha como não fazer estava o compromisso com o Ciclo de Estudos Masculinidades Ecológicas, que reuniu mulheres e homens por pouco de mais de dois meses. Àquela altura, estávamos a uns dois encontros do final. E foi com esse grupo que percebi que o desânimo que eu sentia estava relacionado – diretamente proporcional – ao desespero e tristeza que pulsavam em mim.
Como seguir com os projetos? Pra quê realizar as ideias?
“2023 é o ano do resto de nossas vidas”, dizem uns.
“É hora de agir”, dizem outros.
Está próximo o início de mais um ciclo no calendário gregoriano, mas não será um novo ano para judeus, muçulmanos ou no Sincronário das 13 Luas. Então, talvez possamos sentir os ciclos da Vida serem marcados pelo Sol, expressos pelos equinócios e solstícios.
Para mim, um novo ciclo íntimo começou quando percebi que a Vida ao meu redor nunca parou de pulsar: maritacas no telhado ao nascer do sol voltaram na Primavera; pessoas continuam celebrando seus aniversários e outras se despedindo naturalmente da vida, com coragem – valeu a pena!; mulheres e homens dispostos a compreenderem suas diferenças e semelhanças e extrapolarem juntos a serviço da coletividade; irmãos e irmãs deixando suas neuroses de lado para acolherem-se com o perdão; mulheres, líderes em suas comunidades, lutando por seus vizinhos; jovens cientistas, bem jovens, dedicando-se a invenções criativas e fundamentais para o momento; pessoas protegendo uma mulher da violência de gênero que insiste em ser feminicídio; plantas metamorfoseando suas flores; búfulas e seus filhotes sendo resgatadas da crueldade humana. Sim, vi tudo isso acontecer. Não me contaram: vivi a Vida viver.
Se há Vida, há Esperança, ainda que precise ser renovada, reconectada, realimentada.
Desejo que o Solstício de Verão que se aproxima, em que a maior luminosidade solar aquece nossas terras, corpos e corações, inspire o Bom, Justo e Belo. Que os ciclos que se desdobram em diferentes ritmos e dimensões nos ajudem a perceber que somos, ao mesmo tempo, partículas de consciência e ondas de ação. A inação é, também, ação. Que expressemos nossa inteireza como partículas-ondas na espiral da Teia da Vida que estamos mergulhados. Espiral na qual parece que sempre voltamos a um mesmo ponto, mas que, com o pensamento vivo, percebemos que é o mesmo ponto desdobrado, acrescido, transmutado.
Bom dia Isabel, seu relato me atravessou por inteira, desde que saí do meu emprego de 21 anos tenho estado em suspensão, não consigo dar o primeiro passo, mesmo diante das minhas paixões, a dificuldade de encontrar um novo caminho perdura a cada dia, um misto de ansiedade pelo futuro, incapacidade presente e não validação de um passado que não me pertence mais. Me sinto suspensa no ar, lugar que nunca estive em toda minha vida, que o rito de passagem de ano que se aproxima, me traga esperança e uma força motrix que me mova rumo a este novo ciclo. Obrigada pela reflexão.
Eu passei a me ouvir profundamente esse ano, Isabel, e adotei a postura de não fazer o que eu não quero fazer, se me desagrada. Quando à estas travessias, li o livro da Juliana Bley, chamado Gestão de Travessias, que ajuda a sair desta paralisia. Inclusive, acho que ajudaria a Nani Dantas... Bjs afetuosos! Excelente texto!