É tempo de regenerar
Agir com o coração
Criar o que a gente quer
A hora é agora
É tempo de recuperar
A lúdica revolução
Criar o que a gente quer
A hora é agora
-José Luis Braga (Revolução Gentil)
Desde que decidimos pelo tema que atravessaríamos na travessia #19, a canção de José Luis Braga — cantada por ele e Fernanda Takai — não sai da minha cabeça.
“É tempo de regenerar, agir com o coração”: é assim que começa o refrão de Revolução Gentil e é assim que quero começar essa travessia — pelo coração. Por isso a escolha de uma música para abrir esse texto. A arte nos move, nos atravessa, nos convoca. Ela nos ajuda a acessar camadas sensíveis da experiência que muitas vezes a linguagem teórica não alcança. E regenerar, antes de ser conceito, é gesto, é impulso de vida.
Regenerar
Regenerar é o verbo que vai nos acompanhar nas próximas oito semanas, mas, na verdade, a regeneração sempre esteve no centro do que fazemos na Travessias — Newsletter, Revista e Comunidade Digital da Bambual Editora. Basta olhar a escolha dos verbos pelos quais já atravessamos: Decolonizar, Cuidar, Celebrar, Plantar, Ouvir, Sonhar.
Ações que podem ser vistas como subjetivas, mas também são profundamente políticas. Mas, falando em subjetividade, aproveito para trazer aqui a importância da regeneração subjetiva, título de um dos capítulos do livro “Design Ecossistêmico- Um caminho eco-decolonial para a regeneração”, de Coral Michelin.
Neste livro, a autora afirma que a regeneração de ecossistemas passa, necessariamente, por uma regeneração da visão de mundo de quem projeta. Isso exige uma mudança subjetiva — de percepção, de valores, de escuta — que se desdobra em novas formas de agir no mundo.
Aqui na Travessias, desde o início, nosso desejo tem sido o de abrir espaço para outras formas de viver, narrar e imaginar o mundo. Espaço para o que ainda não foi completamente destruído, e para o que pode — com cuidado e intenção — ser reconstruído, recriado, reinventado.
É preciso intenção e atenção
“Regenerar”, “regeneração”, “regenerativo”: essas palavras andam se multiplicando por aí. Em tempos de colapso ambiental, social e subjetivo, elas aparecem como resposta à exaustão provocada pela lógica extrativista, mecanicista e acelerada da modernidade. Mas é preciso cuidado: regenerar não é uma palavra vazia, nem deve ser usada como um novo rótulo para práticas antigas de exploração. É uma mudança de paradigma. É possibilitar novas visões de mundo.
A regeneração que nos interessa é eco-decolonial e ecossistêmica.
Eco-decolonial, porque parte do reconhecimento de que os processos de devastação que hoje afetam ecossistemas, comunidades e modos de vida não são universais nem inevitáveis. São consequência de um projeto civilizatório que impôs uma separação entre natureza e humano, entre razão e sensibilidade, entre corpo e território.
Ecossistêmica, porque precisamos nos convidar a perceber que não há separação entre o que somos e os ambientes que habitamos. Regenerar ecossistemas não é apenas restaurar florestas, solos ou rios, mas também restaurar as relações que sustentam a vida — entre seres humanos e não humanos, entre culturas e territórios, entre saberes tradicionais e práticas contemporâneas. É reconhecer que cada ação cotidiana, cada escolha de projeto, carrega o potencial de ferir ou de cuidar, de extrair ou de nutrir. Nesse sentido, a regeneração ecossistêmica é inseparável de uma regeneração ética e relacional: uma forma de estar no mundo que cultiva interdependência, reciprocidade e continuidade.
Nesta temporada da Travessias, você vai receber, semanalmente, contribuições de nossos colunistas que também caminham nessa direção: práticas, palavras e experiências que, cada uma a seu modo, apostam na regeneração como caminho possível.
E em junho, começaremos a segunda Trilha de Leituras Compartilhadas, com a leitura do livro Design Ecossistêmico – Um caminho eco-decolonial para a regeneração, junto a autora, Coral Michelin.
Porque sim — é tempo de recuperar a lúdica revolução.
E a hora é agora.
A nossa próxima Trilha de Leitura Compartilhada será com o livro Design Ecossistêmico – Um caminho eco-decolonial para a regeneração, de Coral Michelin. A autora propõe um olhar para o design não como uma ferramenta neutra de criação, mas como um campo capaz de regenerar ecossistemas por meio da transformação da visão de mundo dos sujeitos que projetam.
Leremos essa obra coletivamente para reimaginar não só o design, mas os próprios modos de viver. Uma leitura que propõe uma travessia íntima, política e planetária — como tem sido cada trilha que percorremos em comunidade.
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