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Por que celebramos?
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Por que celebramos?

Um antídoto a competição e controle | travessia #17

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Marina Dain
fev 10, 2025
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Por que celebramos?
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Em toda a história humana, encontramos ocasiões e datas celebrativas. Desde os rituais ancestrais dos povos originários até as festas modernas, a celebração é uma constante que nos conecta como seres humanos. No Brasil, somos conhecidos mundialmente por nosso espírito festivo e afetuoso. O Carnaval, as festas juninas e até mesmo as reuniões familiares são exemplos de como celebramos a vida com alegria e calor humano.

Mas, em um mundo cada vez mais digital, a celebração ganhou novos contornos. Nas redes sociais, celebramos a todo momento: um café bem feito, uma viagem, um novo emprego. Por um lado, isso pode ser positivo, valorizando os pequenos momentos. Por outro, corremos o risco de cair na armadilha da "vida perfeita", onde a comparação excessiva e a pressão por likes podem gerar ansiedade e insatisfação.

Enquanto muitos celebram vidas aparentemente glamourosas, vivemos uma epidemia de depressão, burnout e solidão. Isso nos leva a perguntar:

Sabemos mesmo celebrar?

Celebramos o suficiente?

O que celebramos?

Como celebramos?

Celebrar é muito mais que festejar

A palavra "celebrar" vem do latim celebrare, que significa "honrar, solenizar, tornar famoso". Celebrar é reconhecer e marcar momentos especiais, atribuindo significado ao tempo e aos eventos. Pode ser solene, ritualístico ou festivo, mas, acima de tudo, é um ato de presença e gratidão.

Tanto na psicologia quanto na espiritualidade, somos convidados a cultivar a gratidão e promover sentimentos de comunhão e pertencimento. Em um mundo marcado pela competição e pelo controle, a celebração surge como um antídoto, lembrando-nos da importância de cuidar da saúde emocional e relacional.

Como a celebração pode transformar grupos e comunidades?

Tenho visto, como facilitadora de processos de grupo e na minha experiência de vida comunitária, como a celebração pode fortalecer conexões e criar um senso de pertencimento. Quando celebramos juntos, criamos memórias compartilhadas, fortalecemos a confiança e cultivamos um ambiente de apoio mútuo.

Aqui, compartilho algumas maneiras pelas quais a celebração pode transformar grupos e comunidades, integrando conceitos do Dragon Dreaming, da Teoria U e dos ensinamentos da maravilhosa Sobonfu Somé.

O Dragon Dreaming é uma abordagem colaborativa para projetos regenerativos, estruturada por John Croft e inspirada na sabedoria dos povos aborígenes da Austrália, combinando esses conhecimentos com metodologias como as de Paulo Freire. Baseado nas quatro etapas — sonhar, planejar, fazer e celebrar — reconhece a celebração como parte essencial do ciclo criativo. No Dragon Dreaming, celebrar não é apenas um momento final, mas uma prática contínua: celebramos ao sonhar juntos, fortalecendo a visão compartilhada e a energia criativa; celebramos ao planejar, reconhecendo a inteligência coletiva e a colaboração; celebramos ao agir e realizar, honrando os esforços e pequenas conquistas; e, finalmente, celebramos o ciclo como um todo, integrando aprendizados e transformações.

A Teoria U, desenvolvida por Otto Scharmer, professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), propõe um processo de transformação profunda, onde a escuta, a conexão com o futuro emergente e a cocriação são fundamentais. Nela, a celebração está ligada ao processo de presencing (presenciar) e à cocriação. Celebramos a coragem de abrir a mente, o coração e a vontade; os momentos de conexão profunda conosco e com os outros; e as novas possibilidades que emergem desse processo de inovação e transformação.

Já nos ensinamentos de Sobonfu Somé, professora e escritora burquinense, guardiã dos saberes espirituais Dagara, a celebração tem um papel essencial na vida comunitária. Seu livro O Espírito da Intimidade foi especialmente marcante para mim, pois enfatiza o papel dos rituais na construção de relações autênticas. Para o povo Dagara, a vida é uma sequência de rituais que celebram a conexão entre os vivos, os ancestrais e a natureza. Rituais de passagem marcam transições como momentos sagrados, rituais de cura envolvem toda a comunidade nos processos de transformação, e rituais de gratidão reforçam nossa interdependência com o mundo natural. Para Sobonfu, celebrar é um ato de equilíbrio e pertencimento, um caminho para fortalecer laços e nutrir o bem-estar coletivo.

São muitas as possibilidades e os motivos para celebrar. A intenção aqui, é incentivar a construção de uma cultura de celebração significativa, reconhecendo a potência desse ato. Então, com essas referências em mente, te pergunto, que tal incorporar a celebração em sua rotina?

Gosto de algumas práticas, que compartilho aqui, inspiradas nessas sabedorias:

O pequeno ritual de gratidão, é uma prática simples que consiste em escolher um momento diário ou semanal para reconhecer o que é bom na vida, o que está dando certo e o que pode melhorar. A celebração inclui integrar os aprendizados dos desafios. Lembrar de celebrar as pequenas vitórias é sobre não esperar pelos grandes marcos e celebrar cada pequena conquista, como resolver um conflito ou ter um dia produtivo.

Outra proposta muito legal é promover e participar de celebrações em grupo, que é algo muito potente, por criar memórias em comum. O convite aqui é celebrar o que fizer sentido para o grupo, desde realizações em comum até encontros temáticos que promovam sentimento de conexão e pertencimento.

A celebração é um ato revolucionário, um espaço para renovar a esperança.

Em um mundo marcado por divisões e incertezas, a celebração pode ser um ato revolucionário. Ela nos lembra da nossa humanidade compartilhada e da beleza que existe mesmo em meio ao caos.

Quando celebramos juntos, estamos dizendo: "Nós importamos. Nossas histórias importam. Nosso futuro importa." E isso tem um poder transformador, capaz de renovar e ativar nossas esperanças. Ter uma esperança ativa, que nos convida a agir, é um ato revolucionário.

Faço então um convite à celebração contínua em nossas vidas, pois celebrar não é um luxo: é uma necessidade, uma forma de nos reconectarmos com o que realmente importa e de honrar a vida em toda a sua complexidade.

Ao mesmo tempo, é importante lembrar que celebrar não significa ignorar a dor, negar as dificuldades ou encobrir a realidade. Com todos os desafios que enfrentamos hoje, talvez a busca seja por equilíbrio. Nesse sentido, viver o luto, a pausa, a introspecção e até mesmo a indignação é tão necessário quanto agradecer e comemorar. Quando a celebração se torna apenas um refúgio para evitar o desconforto, corremos o risco de que ela perca sua força e profundidade. Promover espaços para acolher o que dói, reconhecer as perdas e permitir que o ciclo da vida se cumpra faz parte de honrar a vida em sua totalidade. E significa também dar lugar à tristeza, ao vazio e às transições. Dessa forma, talvez a celebração se torne mais autêntica e possa realmente nutrir nossa caminhada.

Com tudo isso, convido você a experimentar a celebração como uma prática diária. Começar aos poucos, celebrando internamente, experiências gostosas do seu dia a dia, um alimento bem feito, uma conversa significativa, um momento de silêncio. E, aos poucos, permitir que essa energia se expanda para seus grupos, comunidades e mais além.

E se aprendêssemos a celebrar mais?

Talvez descobríssemos que a celebração é uma das chaves para uma vida mais plena, conectada e significativa.

E você, que chegou até aqui, o que vai celebrar hoje?

Conte aqui nos comentários, vou gostar de saber de suas experiências.

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Marina Dain
Marina Dain é Educadora, Palestrante, Mentora e Facilitadora de grupos. Designer e Pós-graduada em Psicologia, atua também com consultorias. Cofundadora de Terra Una e idealizadora do @ciclogaiaviva, coordena cursos do Gaia Education e vivências.
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