Ao pensar em futuro ou em transição, logo me vem à cabeça perguntas como para onde? Qual é, afinal, o destino dessa jornada? Ou mesmo, com quem vamos trilhá-la?
Transição requer uma visão que ultrapassa o olhar e escapa o agora, para encontrar a maior das capacidades humanas que tanto nos diferencia dos outros animais: a arte de projetar, de transcender.
E que tipo de futuro queremos projetar? Acredito que a resposta unânime seria para uma vida melhor, um mundo melhor, claro. Mas, o que mais me intriga é: qual significado coletivo de “mundo melhor” que vamos apadrinhar para os próximos anos, décadas e séculos?
E ainda, além disso, esticando um pouco mais as janelas por onde podemos enxergar o mundo: como é que vamos para "lá"? Talvez muito menos importante do que ter a certeza de onde queremos chegar no futuro, seja perceber por quais caminhos queremos caminhar, ou ser como um rio e fazer da nossa correnteza a criação do próprio curso em si. Ou seja, o convite para a transição é muito mais em mergulhar no por quê queremos nos mover e como vamos caminhar do que aonde queremos chegar e, então, como diz mestre Toni Vargas:
Fazer desse caminhar nosso próprio caminho.
A maior parte dos modelos de desenvolvimento modernos remontam uma mesma raiz; estamos em uma mesma armadilha mental coletiva há séculos, por mais que a humanidade gradue do fascismo liberal ao desenvolvimento sustentável.
A necessidade de se estabelecerem padrões de desenvolvimento que foram forçados, forjados, impostos e expandidos através da coerção física ou mental de domínio e poder de uma minoria (da colonização à globalização dos mercados financeiros) enterraram-nos em areia movediça.
Por mais que se tracem planos, metas e objetivos globais, acabamos batendo de frente novamente com a manutenção da mesma máquina do “desenvolvimento” movido por crescimento econômico, geração de emprego e consumo desenfreado (“verdes” ou não) que por fim geram prosperidade aos mesmos poucos de sempre.
A partir desse inequívoco incômodo geraram-se tentativas de mudança em franco progresso desde meados do século passado. Sem dúvida as iniciativas em transição estão em busca de fazer mais sentido à vida com cada passo dado. Cada uma delas, em seu próprio ritmo, estimula práticas atuais que antecipam o futuro em direção à uma escala mais viável para se viver, em que se estabeleça um futuro mais sustentável, regenerativo, colaborativo,decolonial, solidário, plural, democrático e restaurativo.
E, sobretudo, destaca-se estar em movimento. As iniciativas em transição são dinâmicas e precisam ser capazes de adaptar-se a um universo incerto, complexo, frágil, certamente não linear e (por muitos) incompreensível, dissolvendo-se a necessidade de solidificar modelos a serem replicados.
No fim, o que está em jogo é a felicidade das pessoas, a saúde e o equilíbrio com a natureza. E para isso precisamos escutar o que as pessoas desejam e, mesmo muito limitadas em suas escolhas, aonde elas querem chegar. Provavelmente, apesar de similaridades, teremos respostas bem diferentes e se queremos nos mover deve ser respeitado de onde estamos partindo - reconhecendo as especificidades, qualidades, defeitos, injustiças, a história e nosso impacto diário no planeta.
Vivemos, então, alguns paradoxos: Quanto maior é o efeito transformativo das ações em transição, maior é a fricção e o conflito que se enfrenta com a cultura dominante. Esse atrito de fato pode desestabilizar o sistema, mudar, mas também inclui forças contrárias à mudança ou até mesmo criar sequências de cooptação e apropriação da narrativa de reforma por parte do setor privado ou até mesmo do Estado.
Segundo, se essas iniciativas ocorrem na tangente dos regimes dominantes, tende a ser mais fácil por ter menos contraste, mas também é menos transformativo. Agora, como mudar sem fazer parte do mainstream? Ou como fazer mudança de fato se fizer parte do mainstream? Existem já soluções híbridas que fazem sentido, como as parcerias com o poder público, por exemplo, as sharing cities, doughnut economy, P2P civic partnership, commons transition, economia social e até mesmo políticas públicas que já reconhecem e apoiam iniciativas como as comunidades energéticas, a economia solidária, iniciativas de base comunitária, associações regionais para o bem comum, entre outras. Por outro lado, também existem soluções em parceria com a iniciativa privada como, por exemplo, matchfunding, investimento de impacto, investimento responsável, aceleradoras sociais, ESG, entre outras.
Essa interação entre transformar o antigo paradigma e emergir o novo cria a novidade e possíveis transições, que são graduais e contínuas. Esse processo não será apenas tecnológico e nem tão pouco só comportamental, mas sobretudo é uma reforma profunda no pensamento, nos nossos modelos mentais.
Nessa dança complexa, a reflexão restante é quais são os valores inegociáveis, que não podem ser corrompidos, e quais permitem flexibilidade para que se possa convidar o suporte do mainstream e, então, abrir portas e pontes.
💠Transformando o “lixo” orgânico caseiro em adubo
Hoje, estima-se que 99% dos resíduos orgânicos produzidos nos lares brasileiros é encaminhado diretamente a aterros sanitários, incineradores ou lixões, gerando gás poluente que é emitido na atmosfera. Foi pensando em transformar essa realidade que a Realixo surgiu.
O serviço de compostagem de resíduos orgânicos caseiro funciona assim: Eles entregam um baldinho e sacolas compostáveis feitas de mandioca, você separa tudo que é resíduo orgânico e eles recolhem semanalmente para transformar esse resíduo em adubo. Boa alternativa para quem não tem espaço ou jeito para uma composteira. Conheça mais aqui.
Atualmente a empresa atua na cidade de São Paulo, mas deseja expandir sua atuação para o Brasil, então se você tem interesse de fazer parte desse movimento não deixe de se cadastrar e mostrar sua vontade.
💠 Empreendedorismo Regenerativo:
A Escola Schumacher Brasil está com inscrições abertas para Práticas: Empreendedorismo Regenerativo, um percurso de 6 meses que será composto por um grupo de 25 pessoas engajadas em grandes ou pequenas organizações buscando uma atuação regenerativa.
O percurso nasceu de conversas com pessoas vivendo na prática o desafio diário de sustentar uma atuação regenerativa em meio a tantas crises e maneiras de fazer negócio tão duramente estabelecidas em nossa cultura. Acontecerá em um ritmo de encontros regulares em quatro formatos diferentes:
sessões temáticas: em que compartilharemos conteúdos que consideramos fundamentais no contexto de negócios que buscam regeneração,
sessões com convidados: que irão compartilhar suas experiências pessoais,
sessões para prática reflexiva: onde aprofundaremos no contexto dos participantes,
sessões de trabalho em pequenos grupos: onde pessoas afins formarão uma rede e se encontrarão para trocar e explorar a partir de convites específicos
Saiba mais através desse link.
💠 Futurismo Ekológico Ancestral:
Como se conectar com o futuro, explorando outras formas de sentir-pensar nosso corpo, nosso tempo e principalmente pensando outras formas de habitar a Terra?
Foi pensando nessa pergunta que Lua Couto, fundadora do Futuro Possível e pesquisadora de narrativas ecológicas futuristas e Fernanda Mota, artista interdisciplinar e pós-graduanda em antropologia, desenvolveram o curso Futurismo Ekológico Ancestral e um caderno de aprofundamento sobre esse assunto.
Se interessou? Aproveite para baixar o caderno de navegação gratuito sobre estudos em Futurismo Ekológico Ancestral.
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