Olha para elas. E escuta
te indico um filme: Olha para elas | travessia #14: escutar
Neste temporada em que estamos falando sobre escutar, venho propor uma escuta a pessoas que, na maioria das vezes, não estamos acostumados a prestar atenção. São mulheres. Mulheres atravessadas por diversos tipos de abandono.
O documentário "Olha Pra Elas" acompanha Adelaide, Tatiane, Naiane, Catia e Roselaine enquanto elas passam pela experiência do encarceramento em sistema prisional. Em comum, essas mulheres possuem o fato de serem mães e precisarem viver longe de seus filhos. Maternar à distância causa uma dor profunda que as une em um discurso compartilhado. A direção é de Tatiana Sager, o roteiro de Renato Nunes Dorneles e a produção da Panda Filmes. Com duração de 1h e 15 min, o longa alinha realidade e sensibilidade como forma de nos convidar a olhar e ouvir essas mulheres.
O filme propõe ainda uma importante reflexão sobre como o sistema prisional funciona na perspectiva do recorte de gênero, encarcerando mulheres pobres, acusadas de pequenos delitos, muitas vezes dependentes químicas e até inocentes. O estado de vulnerabilidade a que estas mulheres estiveram submetidas na vida se torna evidente, ao passo que através do compartilhamento de suas experiências, notamos as falhas de nossas instituições sociais: família, escola, poder público.
“O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo. São cerca de 42 mil mulheres encarceradas”.
“A maioria não possui o ensino fundamental completo. Em cada 10 pessoas, 7 são negras ou pardas”.
“Mais de 60% foram condenadas por crimes relacionados ao tráfico de drogas. Cerca de 40% são presas provisórias”.
“2/3 são mães e 57% tem mais de um filho. Na ausência de familiares que assumam a guarda, os filhos acabam em abrigos ou são abandonados”.
“Cerca de 1500 crianças vivem com as mães dentro da prisão”.
Essas são informações que surgem no documentário e que dão o cenário do sistema prisional feminino ao qual se atrela a existência de 40 mil mulheres brasileiras.
Recheado de reflexões e provocações de psicólogos, advogados, assistentes sociais, pensadores, dentre outros profissionais que alargam a reflexão sobre como essas mulheres tiveram suas vidas impactadas pela prisão, seja por uma razão específica ou por uma realidade que se impõe, o documentário traz visibilidade para o quanto a experiência traumática se torna parte da vida das mulheres.
Há algumas que já nasceram dentro do sistema prisional, outras que foram presas por engano, aquelas que se envolveram por conta dos parceiros, as que estão fora, mas ainda vivenciam na carne as dores pelas quais passaram.
As histórias, com infinitas especificidades, se repetem.
Dentro da realidade destas histórias identificamos o quanto são precárias as prisões e o quanto elas, em sua inadequação, e na própria experiência de abandono por que passam as prisioneiras, são representações da opressão e machismo estrutural a que mulheres são submetidas em nossa sociedade de uma forma geral.
Abandono, desestruturação do lar, ausência de absorventes nas unidades (o que leva ao uso de miolo de pão, como citado no documentário) parecem coisas distintas, mas são faces da mesma questão.
O longa foi lançado no cinema ano passado e segue circulando em festivais de cinema pelo globo. O documentário está sendo exibido em presídios femininos de todos país e foi disponibilizado para a Senappen – Secretaria Nacional de Políticas Penais. Então a dica da vez é, se tiver a oportunidade, assista “Olha pra elas”. Vale bastante a pena.
⛵ Sobre a Travessias
A Travessias começou como newsletter da Bambual Editora, mas agora é revista e comunidade digital feira por (e para) quem está em transição.
Travessias celebra o tempo da calma, das trocas reais e que não dependem de um algoritmo. Os saberes aqui compartilhados são transdisciplinares e indisciplinares. Mente, Corpo e Alma. Tudo se entrelaça, se mistura, se dissolve. Assim como na vida: humanos e mais que humanos entrelaçados e compartilhando a faísca que nos mantêm vivos.
É só uma questão de nos relembrarmos de tudo isso… Vamos atravessar?
⛵ Por que se inscrever ?
Ao fazer parte, além dos conteúdos abertos, você também terá acesso a conteúdos exclusivos, experiências e descontos. Veja alguns bônus:
35% de desconto no catálogo do site da Bambual Editora;
Revista Travessias impressa (edição 1);
Encontros online com a comunidade;
Espaço para publicar seu relato de transição;
Outras surpresas para apoiar sua transição.
Mude sua assinatura para a versão paga e faça parte da comunidade automaticamente: