Meu Tempo é Agora, e o seu?
O legado cultural das Religiões de Matriz Africana no Brasil. travessia #8
Tinha acabado de conhecer uma pessoa. Depois de muito diálogo, informei:
“Eu sou do Asè”.
Você tem algo contra?
A pessoa prontamente disse que não. Falamos sobre como se deu nosso primeiro contato, como superamos nossos preconceitos, contradições e ela me revelou querer ler mais sobre o Candomblé, algo que saísse do senso comum.
Fiz um exercício de compartilhar algumas literaturas que falavam a respeito, mas de fato, naquele momento não me ocorreu nenhum livro que explicasse a vivência em um Ilê (terreiro) e de pronto me coloquei nessa busca. Já conhecia a literatura de Maria Stella de Azevedo Santos, com oito livros escritos, foi a primeira representante do Candomblé a ocupar uma cadeira na Academia de Letras da Bahia e é considerada a primeira Yalorixá escritora do Brasil.
Bom, mas voltando a história, sabia que Mãe Stella poderia ajudar e já namorava fazia um tempo o livro intitulado “Meu Tempo é Agora”. Resolvi comprá-lo por alguns motivos; primeiro gostaria que esse livro me acompanhasse durante uma travessia, estava, saindo de Salvador e vindo morar em São Paulo, cidades com características bem opostas. Segundo, porque esse livro é uma iniciativa de comunicação direta da Yalorixá Mãe Stella aos seus filhos de santo (omo-orixás), sendo uma oportunidade de adentrar mais no universo do Candomblé através de uma fonte primária.
Mãe Stella é uma mulher vanguardista ao registrar em um livro os ensinamentos do cotidiano da religião, algo incomum na tradição, que é transmitida primordialmente pela oralidade. Sabendo da importância de se manter os fundamentos da religião, mas também atenta para as transformações culturais da sociedade, ela adverte:
“O que se registra, por escrito, permanece!
Porém, nunca é demais lembrar que, apesar da importância da escrita na comunicação, o conhecimento transmitido pela oralidade é a base da transmissão do conhecimento iniciático, pois só através dele o Axé dos mais velhos pode ser repassado aos mais novos".
Diversas situações da vida dentro de um Ilê são compartilhadas neste livro; os modos, costumes, códigos culturais e éticos a serem seguidos nesse espaço, a convivência enquanto um mecanismo de resistência, preservação e sustentabilidade dessa religião. Bem como a diversidade cultural que existe entre os diversos terreiros de Candomblé.
Mas diferente do que o pensamento colonialista nos impôs, nas religiões de matriz africana, o seu saber sem experiência não o torna especial.
O Axé é adquirido através da vivência, da construção dos códigos de convívio comunitário, do respeito à hierarquia e aos mais velhos sábios. Mãe Stella dirá que o principal objetivo de um Iniciado é:
“Adquirir mais Asè, para cada vez mais praticar a Lei Universal do Serviço, para melhor servir ao mundo. Tendo como principal razão a espiritualidade, que nos conduz à unidade, com as nossas diversas partes e com os diversos mundos”.
Portanto, se você está em busca de conhecimento mais abrangente sobre a cultura afro-brasileira ou deseja ampliar seus conhecimentos sobre espiritualidade, em especial pela religião do Candomblé, esse livro será uma ótima companhia. Muitas vezes, parece que você está ouvindo a autora, percebendo seu tom de voz, seriedade e bom humor.
Apesar de todas as contradições em lidar com preconceitos internos e externos que existem em seguir com essa escolha, cultuar a espiritualidade dos meus afrodescendentes me conecta muito mais com uma memória ancestral próspera.
A memória é um direito que nos foi cerceado e a preservação do que restou é um dever a ser garantido pelo Estado. Mas, o Candomblé e as demais religiões de Matriz Africana têm exercido esse papel com maestria, apesar de tanta intolerância religiosa.
Devemos a elas a preservação do legado do povo negro em diáspora no Brasil. Pois se temos história para contar e uma vasta herança cultural; na música, gastronomia, arte, espiritualidade, certamente é porque a religião dos Orixás resiste e persiste.
Como diria o grande Gilberto Gil:
“O afoxé vai seguindo
Sempre seguiu, sempre seguirá
Com a devoção do negro
E a bênção de Oxalá”
Você encontra esse e outros livros de Mãe Stella para comprar na Loja Virtual da Fundação Pierre Verger.
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Desejo boa leitura à todes!