Masculinidades saudáveis: O poder da escuta e do acolhimento
para a construção de uma sociedade sadia | Travessia #14
Revendo minha história até aqui, depois de tantas terapias e compreensões, posso enxergar claramente como ter nascido em um mundo com a estrutura patriarcal e machista afetou minha vida e minha personalidade. Um filme rápido passa na minha cabeça com a dinâmica dos meus pais quando eu era criança, depois meus relacionamentos, minhas "inversões de papéis", minhas estratégias para me proteger, minha separação. As coisas mudaram um pouco quando cheguei no ponto da compreensão dos “porquês" de tudo através do autoconhecimento. Todo o meu caminhar nas terapias e o aprendizado sobre o feminino, as rodas de mulheres, as partilhas em grupo, me fizeram compreender bastante coisa sobre mim.
Até que inusitadamente, através de um grupo que participo de escrita intuitiva, veio um convite para participar de um estudo de livro em grupo. Um livro acadêmico chamado “Masculinidades ecológicas” que duraria mais de dois meses. Hesitei em aceitar, pois me pareceu muito tempo de compromisso para algo que não estava tanto nos meus interesses. Porém, curiosa que sou, aceitei! E surpreendentemente esse estudo em grupo me abriu um novo portal para seguir minha caminhada de autoconhecimento.
O grupo era de mulheres e homens, e o livro reunia teorias sobre masculinidades, ecologia profunda, feminismo ecológico e teoria do cuidado feminista.
Esse livro me fez refletir e rever também meu mundo interno e minha própria masculinidade. Revi algumas sombras, me reconheci machista. Ampliei minha consciência sobre meus comportamentos. Apesar de já ter feito tanto isso em terapias com meu feminino, nunca tinha olhado através do meu masculino e só então consegui enxergar outras coisas em mim.
Fora isso, me deu esperança na humanidade ao saber que dois homens, Martin Hultman e Paul M. Pulé , os autores, reuniram e pesquisaram tantas referências feministas e citaram tantas mulheres para compor um livro que tem a intenção de propor uma transição mais humana e ecológica com o planeta e todos os seres.
Quando o estudo do livro acabou, não só eu, mas um pequeno grupo também impactado com todos os estudos, resolveu dar continuidade e levar essas ideias adiante. Umas das frentes foi criar um grupo de “Conversas Sensíveis entre mulheres e homens”, onde colocaríamos temas para serem debatidos, porém em um ambiente onde as pessoas se sentissem seguras para se abrirem e falarem das suas próprias vulnerabilidades.
Para que isso acontecesse criamos uma série de acordos e o resultado foi surpreendente.
Criamos alguns acordos para serem feitos antes de começarmos os diálogos. Combinamos que nada que fosse falado sairia dali, que falaríamos sempre em primeira pessoa e levaríamos nossa própria vivência com o tema. E que todos pudessem falar e ser ouvidos com respeito. Também definimos que esse convite seria feito para pessoas já familiarizadas com o tema.
E assim ao todo, éramos 12 pessoas, 7 mulheres e 5 homens. Fizemos 3 encontros online onde todos os participantes conseguiram sentir a verdade no depoimento dos demais, acolhendo as perspectivas individuais e ampliando a visão sobre os temas debatidos.
Algumas falas e pontos de vista me tocaram particularmente, me fizeram refletir mais sobre mim e meus relacionamentos. Exemplo disso foi quando um dos homens trouxe a sua questão pessoal sobre sua vontade de ser pai e dividir igualmente o cuidado com o filho. Dizia que gostaria de viver um ideal com sua companheira que fosse possível dividir o mesmo tempo de trabalho profissional e as mesmas responsabilidades e cuidados com um futuro filho, ainda em planejamento. Ele contou que apesar de concordarem no discurso, sentia alguma resistência de sua companheira no assunto sobre cuidado e educação dos filhos, sentia a necessidade de controle dela sobre como deveriam ser tais assuntos. Bom, perguntas sem respostas, assuntos particulares de um casal específico, claro. Mas que me fizeram refletir sobre “necessidades de controle”. De onde vem isso? Qual o medo por trás de não estar no controle? Onde isso me toca? Não tenho respostas, mas essas perguntas são como setas para mim, que aos poucos vão me levando para outra direção.
Nesses encontros também houve muita troca de referências de livros, filmes e podcasts e isso enriqueceu ainda mais as conversas. Ao final percebemos um anseio de todos por aprender e debater mais. Dali surgiu um novo grupo que se reúne uma vez por mês com mulheres e homens para estudar junto com uma terapeuta o livro Mulheres que correm com lobos, de Clarissa Pinkola Estés.
O que mais aprendo com grupos mistos falando sobre toda a estrutura do patriarcado em geral é que todas as pessoas são impactadas de alguma forma e tem histórias e dores que podem ser vistas, ouvidas e acolhidas. Além disso, nesses ambientes mais propícios ao autoconhecimento, as pessoas conseguem olhar melhor para si mesmas e perceber certas coisas que ainda não percebiam.
Acho impressionante o poder da escuta ativa. Quando ela acontece com atenção, respeito e sem nenhuma opinião ou conselho como resposta, ela realmente consegue impactar muito mais o interior das pessoas, pois a reflexão pessoal prevalece.
E essa pode nos levar a outras formas de pensar e ver o mundo.
Gosto muito quando consigo refletir sobre outros pontos de vista, mudar o ângulo das minhas próprias perguntas e assim também minhas perspectivas sobre tudo.
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