Em tempos de algoritmos é preciso criar espaços para a escuta
travessia #14: escutar
Conto:
Hoje marquei um encontro repentino comigo mesmo.
Pedi um café bem quente para durar o máximo de tempo. Foi um encontro daqueles que sem querer você encontra alguém pela rua e fala: vamos tomar um café?! Aqui estou. Quanto tempo que não o via. Sempre correndo, só assim para a gente se encontrar. Se a gente tivesse marcado não teria dado tão certo.
Perguntei o que fazia por aqui. Disse que precisava resolver umas coisas. Então repeti – o que fazia por aqui? Disse o mesmo. Mas na terceira vez a resposta veio. Não sei bem ao certo, apenas tocando em frente. Para onde? Não sei bem, tocando.
Antes do café esfriar, olhei bem dentro de si. Silêncio. Virei o café.
O compromisso me esperava, tive que me despedir. Bom te ver. Mande notícias. Vamos marcar mais vezes. Respirei fundo. E saí com a pergunta que havia me feito.
O que fazia por aqui?
Um convite à escuta interna que anda tão necessária nos tempos atuais
Em 1969, foi trocado o primeiro e-mail da história, no mesmo ano em que uma criatura humana colocava os pés na lua. O primeiro website nasceu em 1991. O iPhone, este conceito de smartphone, foi lançado em 2007. Hoje algumas instituições já estão promovendo metaversos e a Inteligência Artificial vem atravessando diversas áreas. Em outras palavras, a comunicação humana, agora digital e conectada à internet, tornou-se superdimensionada e quantas vezes nos encontramos diante de um excesso informacional, sem espaços vazios na agenda e quando os temos disponíveis, o que colocamos no lugar?
Este deve ser um entre centenas de e-mails que você recebeu nos últimos dias na sua caixa de entrada. Por que você escolheu abrir justamente esta leitura?
Talvez não tenha clareza da resposta, mas devo dizer que o seu tempo e a sua atenção estão sendo disputados neste exato momento. Alguma notificação vai acontecer em breve, se é que já não aconteceu, tocou e chamou sua atenção. A qualquer momento, algo mais atraente, mais adocicado, colorido, vibrante, pode fazê-lo recalcular a rota do GPS de sua atenção: “siga na direção noroeste, você está no trajeto mais rápido” – para onde?
Será mesmo que, com a liberdade de que dispomos, temos autonomia para focar onde realmente queremos?
É por isso que decidi aparecer por aqui com o conto acima, como uma espécie de convite para que você se permita a um encontro para se escutar.
Quando nos silenciamos do mundo exterior, muitas vozes internas costumam emergir, sejam reflexões profundas, emoções, lembranças, sensações etc. Infinidades nos habitam. Infinidades de vozes nos habitam. O que elas estão dizendo?
O modo como lidamos com estas vozes é de foro íntimo e há muitas maneiras de trabalhá-las, inclusive com o auxílio de profissionais especializados. É certo que quanto mais lidamos com elas, mais sabemos lidar.
A partir da escuta profunda, analítica e constante, é possível se conhecer melhor: condição para a autonomia.
Para Zuboff, “toda ameaça à autonomia humana começa com um ataque à consciência, ‘dilacerando nossa capacidade de regular nossos pensamentos, emoções e desejos’”. Não é tão simples lidar com estruturas algorítmicas sedutoras. Há muitas estratégias e interesses por detrás, especialmente pelas gigantes de tecnologia.
Diz Williams, ex-estrategista do Google e pesquisador em filosofia e ética da tecnologia da Universidade de Oxford:
“Milhares de psicólogos, estatísticos e programadores entre os mais brilhantes do mundo têm dedicado a maior parte do tempo que passam acordados a tentar descobrir como minar sua força de vontade”.
Este espaço para escuta, que acessa e aprende com a realidade íntima, possibilita o fortalecimento da autonomia, do autogoverno, da capacidade de lidar e dar limites, especialmente, a determinadas plataformas digitais, no contexto da economia da atenção, permitindo escolhas mais coerentes. Conversaremos e aprofundaremos mais no livro “Sedução Algorítmica” que em breve nascerá pela editora Bambual.
Saber dar limite a si mesmo é estar mais próximo da liberdade.
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Esta é uma adaptação de um trecho do livro “Sedução Algorítmica” de Julio de Ló, que será lançado em breve pela Bambual Editora. Para receber notícias sobre o lançamento continue acompanhando a Travessias Revista e Comunidade Digital.
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