“Todo mundo cuida… a sobrevivência humana depende de cuidados. Os bebês são totalmente indefesos e pereceriam sem algum grau de cuidado. Como resultado, podemos dizer que todos nós… temos estado envolvidos em uma relação de cuidado.” - Federica De Falco, citação do livro Masculinidades Ecológicas.
No dia 13 de outubro de 1972, um avião que partiu do Uruguai rumo ao Chile caiu no meio das Cordilheiras dos Andes. Contrariando as probabilidades, dezesseis passageiros sobreviveram à queda e a 72 dias na neve, com uma temperatura em torno de -40º, em um ambiente totalmente desfavorável a qualquer vida.
Essa é a história real retratada no filme Sociedade da Neve, indicado a três categorias do Oscar 2024. Alguns podem resumir a um milagre ou superação. Mas essa é, sobretudo, uma história de cuidado.
Para além de razões que a mente não pode explicar, uma coisa é fato: Dezesseis pessoas saíram com vida do meio das Cordilheiras dos Andes por conta do cuidar.
Um cuidado coletivo foi crucial para que seguissem vivos. Com solidariedade, tolerância, afeto, companheirismo e aceitação, eles cuidaram uns dos outros limpando feridas e oferecendo calor físico, esperança e otimismo para aqueles que já não acreditavam em um resgate possível.
Talvez seja por isso que o filme de 2023 se chame Sociedade da Neve, diferente do título de um dos livros que narra esse acontecimento: O Milagre dos Andes. Assistir a esse filme fez muitas pessoas refletirem sobre a importância do cuidado para nos mantermos vivos, mesmo nas piores condições dadas. Muitas entrevistas com alguns sobreviventes também nos mostram isso.
Logo após a queda, enquanto cuidavam dos feridos e choravam por aqueles que não tinham sobrevivido, Nando Parrado, um dos sobreviventes, percebeu que precisavam construir uma barreira entre a fuselagem do avião para impedir que o vento entrasse. Assim se uniram para juntar as malas e restos do avião para criar essa proteção.
Esse “milagre” só aconteceu, por conta dessas e outras decisões coletivas que tiveram. Se cada um desses sobreviventes não cuidasse um do outro ou se começassem a brigar entre si, provavelmente, esse filme não existiria.
O cuidado pode salvar vidas. A falta dele faz o oposto.
E isso vale para todas as formas de vida. O cuidado é ação básica para mantermos qualquer coisa viva. Já experimentou iniciar uma pequena horta e passar alguns dias sem olhá-la? Ela não sobrevive.
Um relacionamento, seja ele romântico ou de amizade, que não é cuidado também não sobrevive. Pode até manter as aparências, mas vivo, vivo ele não fica. Relações também demandam cuidado. A lista de exemplos que exigem cuidados é imensa, porque a verdade é que sem cuidado a gente não vive.
E a segunda verdade é que, infelizmente, estamos vivendo uma crise do cuidado.
Estamos construindo uma sociedade que delega cuidados básicos para outras pessoas, não valoriza as pessoas que atuam com papéis de cuidadoras (em muitos ramos) e não coloca essa premissa básica como alicerce de planos de governo.
Os alagamentos e enchentes que vem acontecendo por anos e por todo o Brasil também são exemplos que revelam uma falta de cuidado crônico. Há séculos vemos os sucessivos prefeitos e governantes fechando os olhos em relação a medidas de urbanização que priorizam uma cidade adaptada à mitigação da crise climática.
É mais fácil culpar a chuva, não é mesmo?
Talvez esse seja o período em que mais nos pediu cuidado. Cuidado nas relações, consigo, com o outro e com a natureza.
Mas cuidar exige tempo e dedicação. Olhar para o outro. Paciência. Entrega. Afeto.
Se pensarmos nesse exemplo das enchentes, podemos refletir que é por conta do cuidado que muitas pessoas seguem sobrevivendo a isso, mesmo nas piores condições. Lembra da história dos sobreviventes do voo? E como não lembrar do jovem de 20 anos, Marcos Vinicius, que salvou duas crianças e uma mãe da correnteza que aconteceu em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense (RJ) em fevereiro deste ano?
Apesar de tudo, o cuidar está intrínseco em todos nós.
Por isso, hoje iniciamos a travessia #12: cuidar. Escolhemos trazer o cuidar em forma de verbo para nos chamar para a ação. Afinal, é o que esse tempo nos pede! A cada segunda-feira de março e abril nossos colunistas irão refletir e desfiar o assunto, porque é extenso e cheio de camadas.
Algumas coisas que vamos refletir juntos são:
Cuidado não é uma questão de gênero: Historicamente todas as práticas relacionadas ao cuidado sempre foram funções entregues às mulheres. Isso gerou a invisibilidade deste trabalho. Mas porque isso aconteceu? Será que tem que ser assim mesmo?
Autocuidado para além do que o capitalismo está nos vendendo: Como muitas pautas, o autocuidado também está sendo cooptado pelo capitalismo. Como estabelecer uma rotina realmente saudável e não cair na pegadinha do “cada um por si” ou na pegadinha de que “você pre-ci-sa desse produto para melhorar sua vida”?
Cuidar de quem cuida: Como valorizar os cuidadores da nossa sociedade?
Comunidades de cuidado e criatividade: Cuidado é uma prática coletiva e que favorece ambientes mais criativos. Como podemos criar ambientes assim?
Cuidado para além das relações humanas: O que podemos aprender com os outros seres? E quais relações de cuidado podemos criar com os seres mais-que-humanos?
Cuidar é regenerar: Cuidar é uma prática diária, constante, que exige olhar para a terra, para os outros e para si. Se queremos um mundo regenerativo, precisamos começar a implementar as práticas de cuidado. Quem pode nos inspirar?
Além de todas essas reflexões traremos, como de costume, dicas de filmes e livros sobre o assunto.
💠Leituras para refletir o assunto
📚Masculinidades Ecológicas
Todas as práticas relacionadas ao cuidado, na maioria das vezes, recaem sobre as mulheres. Os impactos são inúmeros. O livro Masculinidade Ecológicas, traz uma extensa investigação sobre o assunto, com um capítulo dedicado ao CUIDADO que todas as pessoas podem ter, seja mulher, homem ou pessoa não-binária. Este livro é interdisciplinar. Destina-se a alcançar (mas não se restringe a) estudiosos que exploram história, estudos de gênero, feminismo material, teoria do cuidado feminista, feminismo ecológico, ecologia profunda, ecologia social, humanidades ambientais, sustentabilidade social, estudos de ciência e tecnologia e filosofia.
📚Meu corpo é uma festa
Nestas páginas, você vai encontrar poesia, conhecimentos de psicologia, medicina chinesa, constelação sistêmica, dança, culinária, entre outros, assim como exercícios práticos para que você possa ter a vivência concreta com o tema de cada capítulo. Você pode fazer os exercícios sozinha, levá-los a seus Círculos de Mulheres ou compartilhá-los com suas pacientes.
📚Ecodarma: Ensinamentos budistas para a urgência ecológica
Como podemos responder com urgência e eficácia à crise ecológica – e manter a sanidade fazendo isso? Este trabalho marcante é simultaneamente um manifesto, um projeto, um apelo à ação, ao cuidar sistêmico e um profundo conforto para tempos difíceis.
💠Projeto Fina - Parceiro da vez
A nossa parceria da vez na Comunidade Travessias é com o Projeto Fina, um “Kit Impulso Vida Saudável” com o passo a passo, explicativo em vídeos e PDF, simples e prático, onde você aprenderá a implementar, de forma gradual, leve e com constância, as 4 Estratégias do emagrecimento saudável e natural no seu dia a dia. Ele é baseado na Medicina Chinesa, nos Florais de Bach e na Aromaterapia.
Os membros da comunidade receberão o código para desconto por e-mai. Então se você faz parte da comunidade, cheque sua caixa de entrada 😉.
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