travessia #17: celebrar

Festejar para subverter

“A vida presta”

Foi gostoso começar a primeira semana de janeiro celebrando a conquista do Globo de Ouro da nossa Fernanda Torres como melhor atriz de drama. A festa foi grande e gerou tanta emoção que já me sinto no direito de escrever “nossa” Fernanda, olha só.

Desde a medalha de ouro de Rebeca Andrade nas Olimpíadas de 2024, não via tamanha comoção, união e sentimento de coletividade. Um país inteiro compartilhando o mesmo prazer de reconhecer, celebrar e nutrir um otimismo genuíno. É como se essas mulheres refletissem um pouco sobre nós.

Mas o que mais me encanta nisso tudo é ver os vídeos antigos em que Fernanda Torres demonstra não estar apegada à vitória. Ela já celebrava desde o começo. "Só" pelo filme estar pronto. "Só" pelo filme ter batido recorde de bilheteira. “Só” pela indicação. "Só" pelo reconhecimento do público.

Vejam… o "só" quase nunca é pouca coisa.

Tenho para mim que nós (pessoas que vibramos com essa atuação e com esse filme) também estamos celebrando desde o início. Não importa tanto se o Oscar vem ou não. A gente se permite celebrar "só" pelo fato de ver uma das nossas realizando um trabalho com brilhantismo.

É sobre tudo isso que vamos falar nesse bimestre. Sobre a importância de celebrar em todas as fases da travessia.

Confesso que esse não era o texto original de abertura da travessia #17. Vinha preparando algo mais “intelectual”. Elenquei uma série de tópicos que falavam sobre como nem sempre fomos ensinados a reconhecer as coisas boas que fazemos ou que nos acontecem. Sobre como a celebração pode ser uma forma de subversão ao ritmo frenético e a busca por resultados que domina nossas vidas.

Mas, às vezes, um sentimento compartilhado explica mais do que muitas palavras. Por isso, sem tantos dados e explicações, começamos a primeira travessia de 2025 celebrando junto a tantas Fernandas nesse Brasil. Mulheres que abrem brechas para realizar o “impossível” e que celebram cada passo dessa travessia.

Desejo que a gente possa seguir nutrindo esse sentimento e criando espaços para festejar pequenas e grandes conquistas.

E como seria, afinal, se vivêssemos em uma sociedade que celebra mais?

Nas próximas semanas navegaremos por essa pergunta junto com nossos colunistas. Quem vai abrir os caminhos é Bruna Buch que nos convida a celebrar a aventura humana. E teremos novidades de colunas por aqui.

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