Celebrar a aventura humana
Não há melhor momento para estar vivo senão agora | Travessia #17: celebrar
Estamos recebendo um ano novinho em folha - não uma folha de papel em branco, mas uma folha verde que acabou de brotar no galho: brilhante e fresca – e provavelmente já estamos com os projetos encaminhados, o trabalho ditando o nosso ritmo e a vida seguindo o seu fluxo. Entre o Natal e o Ano Novo tivemos muitos encontros e momentos para festejar com a família e amigos, e fica o desejo de que a gente possa celebrar mais ao longo do novo ano.
Reunir as pessoas que amamos é o que faz a celebração. Não precisa nem de data comemorativa, o sentimento é o que dá sentido ao encontro.
Quando penso que poderíamos aprender a celebrar mais, sinto que, na verdade, poderíamos aprender a amar mais. Poderíamos aprender a estar inteiramente presentes para cada pessoa ou ser vivo que cruza o nosso caminho e honrar o encontro. Assim acontecem as relações e o tecido da nossa vida vai virando uma festa.
Porém, em uma era em que o trabalho e o produtivismo dominam as nossas vidas, pairam as perguntas:
Como encontrar o espaço mental que permita que a gente se cruze na riqueza do presente?
Como celebrar a vida quando não estamos presentes nem para a nossa própria?
Nesse ponto sinto que sem uma contra-mola que resista fica bem difícil.
Quando pensamos em resistência, podemos associar esta palavra com o ato de lutar, com o calor da batalha e dos movimentos brutos, como se fossem a nossa única opção. No entanto, a ecofilósofa Joanna Macy propõe algo simples, mas poderoso: praticar a gratidão. Pode ser que você revire os olhos ao ler esta palavra já muito batida, mas acredite, segundo Joanna, “a gratidão é subversiva”.
Praticar a gratidão é dar-se conta da preciosidade da nossa vida, de ter concluído um ano inteiro e ter realizado tantas coisas ou, no mínimo, ter aberto muitos caminhos que vão florescer. Praticar a gratidão é reconhecer que a vida é um processo acontecendo no tempo e não tem um lugar para a gente chegar, mas talvez muitos. Praticar a gratidão também nos ajuda a manter a estabilidade quando reconhecemos que cada momento é único e fugaz. E finalmente, praticar a gratidão é perceber que a felicidade genuína não depende de circunstâncias externas ou objetos de consumo.
E como praticar gratidão?
Eu disse que a Joanna propõe algo simples, mas isso não quer dizer que o processo é rápido. Praticar algo novo requer dedicação e repetição. É algo que tem resultados a longo prazo e que exige paciência. É como aprender a tocar um instrumento, ou um novo idioma. Mas se precisamos de uma meta para o ano que começa, eu acho que essa é uma que vale a pena tentar.
Então, experimente logo pela manhã de cada dia agradecer pela noite de descanso. Imagine que muitas pessoas trabalharam enquanto você dormia e tantas outras tiveram o sono interrompido por situações familiares ou de saúde ou por alguma outra coisa séria. Mas por alguma questão de sorte, você teve um sono restaurador. E enquanto você contempla isso, pense em todas as outras condições favoráveis de vida que você possui e todas as coisas importantes que você poderá realizar neste novo dia. E faça uma prece: que todas as pessoas possam ser felizes e reconhecer as bênçãos em suas vidas.
Porém, se ao acordar você sente que não descansou nada, agradeça mesmo assim. Você recebeu mais um dia para realizar aquilo que deseja e pode acolher o cansaço. Praticar a gratidão é também abrir espaço para aquilo que não está bem. Reconhecer e honrar os momentos desafiadores. Pegar no colo essa dor e aspirar: como eu posso mudar isso? Que recursos eu tenho? Que recursos eu preciso buscar? Onde eu posso me apoiar?
Assim, a gente percebe que essas duas coisas andam juntas: alegria e dor, sempre se alternando. E vemos que a vida é uma dança contínua entre diferentes estados emocionais e o nosso alívio é saber que tudo sempre muda. Por exemplo, contemple essa questão aberta: “uma pessoa que me ajudou a acreditar em mim mesmo(a) é (ou foi)...” Você consegue visualizar alguém? Como você se sente? Pode ser que esta pessoa não esteja mais na sua vida e mesmo assim ela teve um papel muito importante.
Pode ser que ao reconhecer as bênçãos e as dificuldades na sua jornada e as mudanças que aconteceram, você se dê conta da riqueza que possui. Você verá todas as pessoas que te apoiaram e apoiam. Você verá todas as pessoas que levantaram obstáculos que fizeram com que você amadurecesse. E vai agradecer a cada uma delas como se fossem joias no seu caminho. E finalmente, você vai celebrar mais!
Em seu documentário Crise Climática como Caminho Espiritual, Joanna Macy diz:
“Se você quer uma aventura, cara, que época para estar vivo! Ter a chance de descobrir o que você tem dentro de si, em termos de vitalidade, atenção e coragem”.
Realmente, que época! Então, pratique amar esse momento único com tudo o que ele oferece, desde o néctar mais doce até o mais amargo. Não desvie o olhar daquilo que está à sua frente e deixe que o seu coração seja atravessado pela imensidão da vida.
Não há melhor momento para celebrar senão agora.
Pensar a crise climática à partir de ensinamentos budistas para a crise climática
Em 2025, ano da COP30 no Brasil, a Comunidade de Aprendizagem do TQR (CA-TQR) vai se dedicar ao estudo e prática do livro Ecodarma: Ensinamentos budistas para a urgência ecológica, do Sensei David Loy, que se propõe a contemplar as seguintes questões: como o budismo pode nos ajudar a responder à crise ecológica e o que essa crise significa para nossa prática e compreensão do Darma?
David Loy nos mostra que a mudança climática “é apenas a proverbial ponta do iceberg”. São várias as questões ambientais interconectadas com as quais precisamos lidar, e a raiz de todas elas é a nossa incompreensão de nós mesmos e do mundo. Em outras palavras, a crise ecológica é uma crise espiritual. David Loy faz uma análise convincente e abrangente de como o budismo pode ajudar.
Se você sente que a hora é agora e precisa de ferramentas para agir, junte-se ao grupo!
O estudo começará no dia 12 de fevereiro e terá duração de 21 semanas. Os encontros são síncronos, via Zoom, quinzenalmente às quartas, às 19h (gravações disponíveis) e os participantes receberão desconto para compra do livro no site da Bambual Editora.
Saiba mais em: www.trabalhoquereconecta.com.br.
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